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Covid-19: Especialistas alertam para a necessidade da avaliação nutricional no tratamento dos doentes

LUSA
28-04-2020 18:44h

Especialistas alertaram hoje para a necessidade existir uma avaliação e intervenção nutricional no tratamento de doentes com covid-19, uma vez que as medidas de isolamento adotadas nas enfermarias e o estado inflamatório destes doentes “aumentam o risco de desnutrição”.

Reunidos hoje por videoconferência para abordar a importância da intervenção nutricional nos doentes com a covid-19, quatro especialistas defenderam a necessidade das equipas clínicas e dos doentes serem sensibilizados para a necessidade da avaliação nutricional.

“A avaliação e intervenção nutricional não pode ser subestimada por toda a equipa interdisciplinar”, afirmou Sofia Duque, médica de Medicina Interna no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa.

A médica, que acredita que este é “um desafio de toda a equipa”, salientou que a prevenção e o tratamento nutricional pode, efetivamente, melhorar o prognóstico destes doentes.

“A avaliação entre o nutricionista e o utente já não é possível, mas é fundamental que os médicos e enfermeiros mantenham o contacto com o nutricionista”, sublinhou Sofia Duque, adiantando que é também fundamental saber quais as intolerâncias alimentares, peso, altura, Índice de Massa Corporal e especificidades da dieta do doente.

“Não podemos falhar na pesquisa pelos sintomas”, defendeu Sofia Duque, realçando que a alimentação deve ser de “fácil mastigação” e recorrer a suplementos nutricionais.

Também Liliana Sousa, nutricionista na Unidade Local de Saúde de Matosinhos – Hospital Pedro Hispano, defendeu a utilização de suplementos de nutrição e contrariou a ideia de serem usadas sondas nasogástricas.

“A colocação de sonda representa um prejuízo para o doente, aquilo que devemos é recorrer aos suplementos e darmos uma concentração calórica ao doente”, afirmou a especialista que, durante a sessão, descreveu como tem sido coordenada a intervenção nutricional no Hospital Pedro Hispano.

Liliana Sousa lembrou ainda que, apesar do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido, “estes doentes continuam a representar desafios particulares”.

Paralelamente, Ricardo Marinho, médico de Medicina Interna, que está atualmente no serviço de infecciosas do Centro Hospitalar Universitário do Porto (Santo António) salientou que é “elevado o risco de desnutrição em doentes infetados por covid-19”.

Segundo o médico, este risco é particularmente motivado pela incapacidade de vigiar o aporte alimentar, pelas limitações impostas pelas medidas de isolamento e pelo impacto do estado inflamatório do doente.

“O que se vê nestes doentes é desnutrição marcada e desproporcionada do tecido muscular, nota-se que perdem autonomia e mobilidade”, contou Ricardo Marinho, salientando a necessidade de existir “vigilância do ponto de vista nutricional”.

“Muitas vezes, os doentes sentem-se fatigados, comem apenas sopa e fruta, e é preciso uma vigilância do ponto de vista nutricional”, defendeu, referindo que atualmente o Hospital de Santo António tem 90 doentes internados e acompanha 600 doentes em ambulatório.

O debate, promovido pela Associação Portuguesa de Nutrição Entérica e Parentérica (APNEP) e pela Nestlé Health Science, foi moderado por Aníbal Marinho, presidente da APNEP que, em declarações à Lusa, defendeu a necessidade de, face à importância dos suplementos nutricionais, ser aprovada a norma que remete a comparticipação destes produtos pelo Estado.

“Estamos há mais de um ano à espera que seja publicada”, afirmou Aníbal Marinho, que é também médico intensivista no Centro Hospitalar Universitário do Porto, adiantando que, face à covid-19, esta questão se coloca com mais premência.

“Penso que agora com os doentes com covid-19, este problema se vai pôr com mais premência porque estes doentes têm debilidades musculares e incapacidade de se alimentar muito para além do internamento, vão ter de fazer suplementações proteicas para recuperar a sua massa muscular”, explicou o médico.

Acrescentando que “este vai ser um problema para o qual o Ministério da Saúde vai ter de olhar ainda com mais cuidado, caso contrário, vamos ter problemas graves na recuperação destes doentes, face à crise económica que se avizinha”.

Portugal contabiliza 948 mortos associados à covid-19 em 24.322 casos confirmados de infeção, segundo o boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia divulgado hoje.

 

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