O secretário-geral comunista condenou hoje a "diabolização do Serviço Nacional de Saúde (SNS)" e a "fuga para a frente" do Governo no caso das urgências pediátricas do Hospital Garcia de Orta, Almada.
O primeiro-ministro, António Costa, defendeu a importância de promover os cuidados de saúde primários e recusou o cenário de "concentração" de serviços, no debate parlamentar quinzenal.
"É com grande preocupação que se assiste diariamente à diabolização do SNS não apenas por parte dos detentores dos grupos privados interessados, sobretudo na drenagem de milhares de milhões de euros para sustentar o seu crescimento, mas também daqueles que, alegadamente preocupados com as insuficiências do serviço público, nunca aceitaram a criação do SNS contra os interesses instalados na saúde", criticou Jerónimo de Sousa.
O líder do PCP referiu-se especificamente à urgência pediátrica do Garcia de Orta e à "opção de fuga para a frente", adiantando estar "a ser estudada a possibilidade de juntar em Almada os pediatras da península de Setúbal, criando um problema maior às famílias dos concelhos mais distantes".
"Que faz o Governo? Bloqueia administrativamente o recrutamento de novos profissionais e desvaloriza profissional e salarialmente os que estão", lamentou, discordando ainda da "suborçamentação na aquisição de novos equipamentos" do "fecho e concentração de serviços".
"Na saúde temos hoje mais 15 mil profissionais do que há quatro anos. São insuficientes? Pois são", reconheceu António Costa, embora citando concursos abertos para médicos especialistas e outro para formadores.
Segundo o chefe do Governo não se pode "olhar para o SNS" e "querer fazer mais do mesmo".
"Temos de fazer também diferente para podermos servir melhor. O exemplo das urgências é muito significativo. Não se trata de concentrar, mas, pelo contrário, de desconcertar. A grande prioridade que definimos foi reforçar os cuidados de saúde primários, aumentando as suas valências. A decisão não foi simplesmente encerrar no período noturno as urgências no Garcia de Orta, foi alargar até à meia-noite o atendimento permanente nos cuidados primários em Almada e no Seixal. No primeiro fim de semana em que funcionou não houve uma única criança que não tivesse sido atendida nem que tivesse de ser encaminhada para cuidados hospitalares", assegurou.
Jerónimo de Sousa criticou ainda o constante argumento de que "não há dinheiro" ou de que o Orçamento do Estado não comporta medidas como a baixa do IVA da eletricidade para 6%, com um custo de 700 milhões de euros, ao passo que quando se trata de grandes grupos económicos "perdoa-se sempre qualquer coisinha".
"Acompanhamos as preocupações da necessidade de redução dos custos da eletricidade e da energia em geral. É por isso que temos trabalhado e é graças ao conjunto de medidas que temos vindo a adotar que o custo da energia baixou 8,3% desde 2016 até agora. Só no primeiro semestre deste ano já baixou 4,1%. É assim que temos de continuar a trabalhar. Se reduzirmos o custo da tarifa, reduzimos também o custo daquilo que cada português paga sobre o IVA", disse António Costa.