O Sindicato dos Médicos da Zona Sul advertiu hoje que os médicos de família dos centros de saúde de Almada e Seixal estão a ser obrigados a fazer “horas extraordinárias” devido à situação do Hospital Garcia de Orta.
“A incapacidade gestionária da situação levou a que a alternativa passe por impor o prolongamento do funcionamento dos centros de saúde […] à custa de trabalho extraordinário, por parte dos médicos de família já sobrecarregados com os cuidados a uma população altamente carenciada”, frisou o sindicato, em comunicado.
Na semana passada, a ministra da Saúde, Marta Temido, anunciou que a urgência pediátrica do Garcia de Orta, em Almada, no distrito de Setúbal, iria passar a encerrar todas as noites, entre as 20:00 e as 08:00, apontando como alternativa dois centros de saúde que alargaram o seu horário.
A unidade de saúde da Amora, no Seixal, e a Rainha Dona Leonor, em Almada, passaram a funcionar das 08:00 às 00:00, nos dias de semana, e das 10:00 às 22:00, ao fim de semana.
Uma “imposição” que tem um tempo indeterminado e que, na visão do sindicato, é um “grave desrespeito pelos profissionais de saúde”, que só receberam esta informação na última sexta-feira, três dias antes do início do trabalho extraordinário (segunda-feira).
Além disso, defendem que a solução “coloca sérios problemas”, porque a escala de trabalho extraordinário é “imposta e determinada pelas chefias” e o limite de trabalho extraordinário “não é respeitado no que concerne ao atendimento complementar realizado pelos médicos de família”.
Segundo o sindicato, esta situação também “aumenta o descontentamento dos utentes por dificuldade de acesso às consultas com o seu médico de família”.
“A solução arranjada não só mantém o encerramento das urgências pediátricas do Hospital Garcia de Orta, como diminui o acesso da população aos cuidados de saúde primários, já por si tão deficitários nesta região, uma das mais carenciadas em termos de médicos de família”, apontou.
Por este motivo, a estrutura sindical criticou o Ministério da Saúde por resolver problemas “sem qualquer planeamento de recursos humanos e descurando os cuidados de saúde prestados à população”.
Na semana passada, aquando do anúncio do encerramento diário, a ministra da Saúde explicou que a decisão tomada “não é a solução ideal”, mas que é a que garante “mais segurança” para os utentes.
Esta situação deve-se à falta de pediatras, que já afeta o Hospital Garcia de Orta há mais de um ano, quando saíram 13 profissionais, e, segundo o Sindicato dos Médicos da Zona Sul, nem o lançamento de concursos foi suficiente para colmatar a carência porque "ninguém concorreu".
A urgência pediátrica daquela unidade hospitalar começou por fechar aos fins de semana, em outubro, mas a partir de segunda-feira passou a acontecer diariamente, no período noturno.