Um grupo de investigadores do Instituto Universitário Egas Moniz concluiu que sete em cada dez habitantes dos concelhos de Almada e Seixal, no distrito de Setúbal, têm doença periodontal, que afeta as gengivas e pode causar perda de dentes.
Esta é uma das principais conclusões dos investigadores João Botelho e Vanessa Machado, que relataram “pela primeira vez” qual o estado gengival e periodontal de “uma população representativa do sul da Área Metropolitana de Lisboa”.
“Os resultados deste estudo epidemiológico indicam que sete em cada dez adultos […] apresentavam doença periodontal e seis em cada dez foram diagnosticados com periodontite”, explicam os investigadores num documento enviado à agência Lusa.
O estudo foi realizado nos primeiros meses deste ano e contou com a participação de 1.064 utentes do Agrupamento de Saúde de Almada e Seixal, com uma idade média de 60 anos.
Segundo os investigadores, “praticamente metade da população exibiu periodontite moderada e severa”, mas oito em cada dez pessoas dizem “desconhecer as doenças periodontais”.
Este tipo de patologia afeta os tecidos que envolvem e suportam os dentes, podendo originar duas doenças principais: a gengivite e a periodontite.
Contudo, enquanto a gengivite é uma inflamação superficial “facilmente tratada”, a periodontite origina uma “inflamação crónica dos tecidos de suporte dos dentes”, podendo causar a perda dos mesmos.
Devido aos resultados obtidos, os investigadores pretendem “fazer crescer e melhorar o conhecimento do país” em relação a esta doença, que é uma das “mais prevalecentes no mundo inteiro”.
No caso desta população na Margem Sul, a doença periodontal apresenta “valores significativos” em ambos os sexos, mas mostrou uma “maior prevalência significativa” nos homens, a partir dos 50 anos.
Já o nível de escolaridade também influencia esta patologia, tendo em conta que 33% dos inquiridos com periodontite severa não tinham qualquer escolaridade, enquanto nenhum dos universitários inquiridos (55%) manifestava a doença.
Além disso, a patologia também tem mais expressão em reformados (29,2%) e desempregados (22,1%), do que na população que está no ativo (17,4%).
Em relação aos cuidados de saúde oral, os participantes relataram ter uma “boa frequência de escovagem”, mas têm “hábitos insuficientes na limpeza interproximal” (utilização de fio dental).
Tendo em conta os resultados do estudo, os investigadores advertiram para a existência de “grupos de risco” da doença periodontal que, além dos homens, pessoas de baixa escolaridade e de baixo rendimento familiar mensal bruto, inclui também os fumadores e diabéticos.
Na amostra analisada, cerca de 60% da população é fumadora, mas, destes inquiridos, apenas 22,8% não revelaram ter algum tipo de doença periodontal.
Já dos 19% que têm diabetes, 65% revelaram ter a doença, em que a periodontite moderada é a que tem mais expressão (22,1%) e a gengivite a menor (8,8%).
Por estes motivos, os investigadores defenderam que “estes grupos de risco deverão ser monitorizados com especial atenção na prevenção”.
Além disso, os autores do estudo alertaram para os “poucos estudos epidemiológicos” relativamente a esta patologia, tendo em conta a conclusão de “franca prevalência de doenças periodontais” em Almada e Seixal.
“No melhor interesse da saúde pública nacional, é importante o desenvolvimento de um novo estudo nacional de prevalência das doenças orais com especial enfoque nas doenças periodontais utilizando uma avaliação total da cavidade oral”, defenderam no documento.
O Instituto Universitário Egas Moniz é uma instituição privada dedicada ao ensino superior na área da saúde que tem sede no Monte da Caparica, em Almada.