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Covid-19: Apoio psicológico da Feira já ajudou 65 pessoas a criar “resiliência”

21-04-2020 16:51h

A linha telefónica de apoio psicológico lançada pelo Município de Santa Maria da Feira para ajudar a população a lidar com a covid-19 já atendeu 65 cidadãos, ajudando-os a estabilizar e gerir emoções, criando também mecanismos de "resiliência".

O serviço foi lançado por essa autarquia do distrito de Aveiro a 23 de março e envolve uma coordenação com outras equipas locais de apoio médico e social, para que, em caso de necessidade, os psicólogos possam encaminhar os autores das chamadas para outros técnicos, sinalizando casos que exijam atenção a outros níveis.

Filipa Cardoso, uma das psicólogas envolvida no projeto, defende que, comparativamente ao serviço congénere de âmbito nacional, "a mais-valia desta linha telefónica local é o facto de ser transversal a vários domínios de atuação e, por isso, proporcionar uma resposta mais completa e mais rápida a quem a procura".

Os munícipes que recorrem ao serviço "têm todos mais de 30 anos, são principalmente mulheres" e como motivação comum têm uma certa "incapacidade para estabilizar e gerir emoções", o que a psicóloga atribui à circunstância de a atual pandemia de SARS-CoV-2 e o isolamento social a que vem obrigando constituírem "uma situação muito atípica, desconhecida de todos".

Para Filipa Cardoso, essas circunstâncias "agravam o estado de quem já tinha doenças psicológicas antes" e despertam angústias novas em quem antes não as identificava, no que se refere sobretudo ao "medo de se ficar infetado pela covid-19 e [às] dúvidas sobre como agir para se estar em segurança".

Realçando que "o ser humano não sabe lidar muito bem com a incerteza", essa profissional de saúde recomenda aos cidadãos que a vêm contactando que assumam os seus receios, os verbalizem e detalhem, para a partir desse reconhecimento possam encontrar formas de lidar com as suas angústias e ultrapassá-las.

Muitos dos casos prendem-se com famílias preocupadas com os seus seniores, porque, "embora as pessoas tenham adotado alguns comportamentos de distanciamento precisamente para proteger os seus idosos", ficam depois com sentimento de culpa por sabê-los a "ressentirem-se da falta de convívio" e de toque humano.

"Os mais velhos acabam por perceber, mas a situação não deixa de ser dolorosa. O nosso objetivo é promover a estabilização emocional, fazer as pessoas encararem a situação como temporária e ajudá-las a criar resiliência psicológica. Porque isto vai mudar as nossas vidas para sempre, mas não ficará para sempre assim como está", diz Filipa Cardoso.

Na perspetiva da psicóloga, a melhor forma de superar esta fase de isolamento social é, por isso, mantendo a fidelidade às rotinas e definindo objetivos pessoais diários.

"As pessoas não se devem deixar levar pelas horas, como se não tivessem nada para fazer. O mais recomendado é que não percam as suas rotinas, que mantenham as refeições à mesma hora, que tratem de projetos que vinham adiando, que se sintam úteis. Não devem deixar-se aborrecer, têm que definir um objetivo para cada dia, fazer uma lista de tarefas a cumprir e descobrir coisas que lhes possam dar mais prazer, para se sentirem motivadas a fazê-las", explica.

A psicóloga admite que no aconchego de casa há tendência para a população "relaxar porque todos se sentem mais seguros e vão descurando o que há para fazer", mas, a avaliar pelas próprias consultas telefónicas e pelo sentimento de "valorização" que identifica nos utentes que contacta novamente para "follow-up" da situação, afirma: "Quando se dá às pessoas outra perspetiva, notamos-lhes um ânimo novo, que lhes baixa a ansiedade".

O novo coronavírus responsável pela presente pandemia de covid-19 foi detetado na China em dezembro de 2019 e já infetou quase 2,5 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais mais de 170.000 morreram. Ainda nesse universo de doentes, mais de 558.000 foram já dados como recuperados.

Em Portugal, onde os primeiros casos confirmados se registaram a 02 de março, o último balanço da DGS indicava 762 óbitos entre 21.379 infeções confirmadas. Entre esses doentes, 1.172 estão internados em hospitais, 917 já recuperaram e os restantes convalescem em casa ou noutras instituições.

Em Santa Maria da Feira, especificamente, a Direção-Geral de Saúde regista hoje 339 casos de infeção por covid-19 entre os mais de 139.300 habitantes do concelho. Nesse território de 213,4 quilómetros quadrados, já a autarquia local contabilizada a 09 de abril seis óbitos provocados pela nova doença.

Desde 19 de março, o país está em estado de emergência, o que vigora pelo menos até às 23:59 do próximo dia 02 de maio.

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