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Covid-19: Distribuição é resiliente e prepara-se para consumidor diferente - APED

LUSA
21-04-2020 13:37h

A presidente da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), Isabel Barros, considerou hoje que o setor demonstrou resiliência e capacidade de adaptação nas últimas semanas e avisou que o consumidor “não vai ficar igual”.

“Estamos a assistir a uma experiência à escala global. O consumidor não vai sair daqui igual”, disse a responsável numa conferência ‘online’ promovida pela consultora Consulai, referindo que já hoje é possível observar práticas do consumidor alteradas, em virtude do período de confinamento.

“Com tudo o que foram as práticas desenvolvidas pelos nossos produtores e pelas nossas indústrias agroalimentares e os novos modelos de negócio que foram surgindo, nós, quando aterrarmos, vamos aterrar com um consumidor diferente”, disse.

Para Isabel Barros este será um dos desafios para o setor e também uma das grandes preocupações para as quais indústria, produção e distribuição devem preparar-se. 

“Vamos ter que nos preocupar já em pensar nisso. Não em gerir só o curto prazo e o dia de hoje, mas pensar que consumidor vai ser esse, vai ser mais exigente, mais virado para a produção nacional”, disse no evento subordinado ao tema “Agricultura em Tempo de Crise – Desafios e oportunidades das cadeias de abastecimento”.

A responsável fez um balanço positivo da forma como Portugal conseguiu reagir “muito rapidamente” ao aumento da procura "inusitada" nas últimas quatro semanas, em virtude da pandemia de covid-19, evitando ruturas de ‘stocks’ e supermercados com prateleiras vazias como aconteceu em alguns países, como Itália e Reino Unido.

“Somos de facto muito resilientes e temos uma capacidade de adaptação brutal”, disse Isabel Barros, lembrando, no entanto, que foram necessários grandes investimentos ao nível da segurança, limpeza e pessoas.

“Hoje nós vivemos num ambiente que não é normal, mas não é turbulento, a cadeia de abastecimento está a funcionar”, disse a responsável, referindo ainda que ao nível do canal ‘online’, anteriormente de expressão pouco significativa e hoje o meio preferencial, houve grandes avanços entre o transporte e a distribuição, em semanas conseguiram montar-se operações inovadoras.

Estas operações foram possíveis devido às parcerias “de anos” feitas entre a distribuição, a produção e a indústria agro-alimentar, destacou.

Esta opinião foi partilhada pelo vice-presidente da CIP, Jorge Henriques, e pelo presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Eduardo Oliveira e Sousa, que também foram convidados da conferência.

Jorge Henriques concorda que “nada será como dantes” e que é necessário refletir sobre “o novo consumidor que vai sair desta crise”, com novos desafios, nomeadamente relacionados com a reutilização e a reciclagem.

“Portugal não poderá nunca ser autossuficiente em algumas matérias-primas. Mas na agricultura nacional tem-se conseguido chegar a uma autossuficiência no abastecimento de matérias-primas. O objetivo é aprofundar parcerias com os dois canais e produzir localmente aquilo que importamos sem necessidade”, disse.

Para o responsável a preocupação principal surge acerca do modo como o setor da hotelaria, turismo e restauração vai superar desta crise e reagir.

“Vai ser um trabalho de meses, não vai ser fácil. O turismo colapsou e vai ser difícil que nos próximos tempos voltemos a ter a vaga de turismo de qualidade que tínhamos”, disse.

Para o presidente da CAP, Eduardo Oliveira e Sousa, os setores dedicados à exportação – sobretudo o das flores e dos frutos vermelhos -, são os que mais estão a ser mais penalizados e, por isso, também na sua perspetiva, haverá “um mundo diferente” e é preciso desenvolver práticas sustentáveis e inovadoras.

Sobre a pressão dos preços, Isabel Barros disse que a distribuição tem feito “um grande esforço”, que já vinha de um período anterior à crise da covid-19, para escoar a produção nacional, rejeitando a existência de grandes margens para o setor.

A nível global, segundo um balanço da AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 170 mil mortos e infetou quase 2,5 milhões de pessoas em 193 países e territórios.

Mais de 558 mil doentes foram considerados curados.

Portugal regista hoje 762 mortos associados à covid-19, mais 27 do que na segunda-feira, e 21.379 infetados (mais 516), indica o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS).

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa 4,5 mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), encerraram o comércio não essencial e reduziram drasticamente o tráfego aéreo, paralisando setores inteiros da economia mundial.

 Portugal cumpre o terceiro período de 15 dias de estado de emergência, iniciado em 19 de março, e o decreto presidencial que prolongou a medida até 02 de maio prevê a possibilidade de uma "abertura gradual, faseada ou alternada de serviços, empresas ou estabelecimentos comerciais".

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