O responsável da Autoridade de Saúde Regional dos Açores, Tiago Lopes, considerou hoje que não se podem culpar os funcionários do lar do Nordeste pela disseminação da covid-19, alegando que o surto é de difícil controlo.
“Não iremos apontar o dedo a funcionários do lar, nem a ninguém, porque é uma situação que é própria da evolução deste surto. Não conseguimos identificar visualmente o vírus quando ele está a circular e a disseminar. É uma situação com a qual nós temos todos em conjunto, de forma articulada, de trabalhar e combater para que tenhamos a melhor resposta”, afirmou.
Tiago Lopes falava, em Angra do Heroísmo, no ponto de situação diário sobre a evolução do surto de covid-19 no arquipélago.
No concelho do Nordeste, na ilha de São Miguel, o mais afetado pela covid-19 nos Açores, foram já identificados 44 casos positivos, 43 dos quais relacionados com uma cadeia de transmissão local, iniciada no concelho da Povoação e secundarizada no Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada.
No lar da Santa Casa da Misericórdia do Nordeste foram detetados 27 casos positivos em utentes (cinco dos quais morreram) e 10 em profissionais de saúde, tendo ainda sido infetados seis contactos próximos desses profissionais.
O primeiro caso de uma utente do lar infetada foi detetado no dia 07 de abril, depois de a mulher de 88 anos, que entretanto morreu, ter estado internada no Hospital do Divino Espírito Santo.
Na ocasião, foram feitos testes a cerca de uma centena de utentes e profissionais de saúde, tendo sido confirmados resultados positivos em apenas quatro outros utentes e sete profissionais de saúde, mas num segundo teste foram detetados mais casos.
Questionado sobre o cumprimento do plano de contingência do lar e sobre a existência de material de proteção para os profissionais de saúde, o responsável da Autoridade de Saúde Regional recusou-se a atribuir culpas.
“Não se podem apontar apenas e só culpas a uma unidade hospitalar, neste caso. A culpa é de todos nós, por via daquilo que é a nossa convivência social e o exercício de funções, quer sejam profissionais de saúde de âmbito hospitalar, quer sejam profissionais de saúde no âmbito de uma estrutura residencial para idosos”, frisou.
Tiago Lopes sublinhou que se trata de “um contexto muito particular de pessoas mais frágeis e mais sensíveis, em termos da sua condição de saúde”, alegando que já era “expectável” que o número de casos de infeção pelo novo coronavírus aumentasse dentro da instituição, por isso foi feito um segundo teste.
Foram hoje detetados três novos casos de covid-19 nos Açores: dois reclusos libertados do Estabelecimento Prisional de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, e transferidos para a ilha de São Miguel, e uma utente do lar do Nordeste, com 84 anos, que tinha sido já internada no Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada.
Foi ainda confirmado um novo óbito, uma utente do lar do Nordeste, com 86 anos, aumentando para sete o número total de mortes em pessoas infetadas com o novo coronavírus no arquipélago.
Desde o início do surto foram confirmados 131 casos de covid-19 nos Açores, 109 dos quais ativos, tendo ocorrido 15 recuperações (seis na Terceira, quatro em São Miguel, quatro em São Jorge e uma no Pico) e sete mortes (em São Miguel).
A ilha de São Miguel é a que registou mais casos (93), seguindo-se Terceira (11), Pico (10), São Jorge (sete), Faial (cinco) e Graciosa (cinco).
Estão atualmente internados nos Açores 36 doentes com covid-19, quatro dos quais em cuidados intensivos.
Entre os infetados registaram-se 21 profissionais de saúde (dois dos quais recuperados), tendo já sido testados 1.173.
Um caso detetado no sábado na ilha Graciosa levou a um rastreio no centro de saúde da ilha, onde já foram testados 56 profissionais de saúde.
“Há relações de parentesco com alguns profissionais de saúde que exercem funções na Unidade de Saúde da Ilha Graciosa e não só testámos os contactos próximos de primeira linha, como vamos aos de segunda e, em alguns casos, aos de terceira. Daí o número mais avolumado que temos de profissionais identificados da Unidade de Saúde da Ilha Graciosa”, afirmou Tiago Lopes.
Questionado sobre um alegado racionamento de material de proteção individual no hospital de Ponta Delgada, com profissionais de saúde a utilizaram a mesma máscara durante todo o turno, Tiago Lopes disse que a Autoridade de Saúde não recebeu até ao momento qualquer queixa nesse sentido.
O também diretor regional da Saúde alegou que a gestão do material é feita internamente por cada serviço do hospital, mas defendeu que a utilização deve ser feita “de forma racional, mas não racionada”.