Relatos sobre brigas de casais no Brasil aumentaram 431% desde o início do isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus, segundo um levantamento publicado hoje pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
A sondagem é fruto de uma parceria da organização não-governamental com a empresa de pesquisas Decode Pulse, que analisou 52.315 menções sobre violência doméstica na rede social Twitter, das quais 5.583 continham algum indicativo de briga entre casais registadas por vizinhos entre os meses de fevereiro e abril.
Dentro deste cenário, o FBSP descobriu que 25% do total de relatos de brigas de casal foram feitos às sextas-feiras, 53% dos relatos foram publicados à noite ou na madrugada, entre as 20:00 e as 03:00, e 67% dos relatos foram feitos por mulheres.
"Embora a quarentena seja a medida mais segura, necessária e eficaz para minimizar os efeitos diretos da covid-19, o regime de isolamento tem imposto uma série de consequências não apenas para os sistemas de saúde, mas também para a vida de milhares de mulheres que já viviam em situação de violência doméstica", destacou a pesquisa da FBSP.
A ONG avaliou que uma das consequências diretas dessa situação, além do aumento dos casos de violência, tem sido a diminuição das denúncias, uma vez que em função do isolamento muitas mulheres não têm conseguido sair de casa para fazer ou têm medo de realizar queixas dada a proximidade do parceiro.
O estudo traz dados dos estados brasileiros de São Paulo, Acre, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Pará, onde vigoram decretos de isolamento social, e foram recolhidos ao longo da segunda semana de abril.
Na maioria dos estados, houve um aumento no registo de femicídios.
Na comparação dos meses de março de 2019 e março de 2020, a pesquisa verificou que no estado do Mato Grosso, localizado na região centro oeste do Brasil, os homicídios de mulheres saltaram de dois casos em março de 2019 para 10 casos em março de 2020.
No Pará e no Amapá, estados da região norte do país, os femicídios permaneceram estáveis ou registaram uma leve subida na comparação entre anos. No Pará houve quatro vítimas em março de cada ano, no Acre passaram de um para dois.
No Rio Grande do Norte, estado da região nordeste, os femicídios saltaram de um para quatro casos registados.
No Rio Grande do Sul, estado da região Sul do Brasil, o número manteve-se estável, com 11 casos em cada ano.
Já em São Paulo, na região sudoeste do país, os femicídios cresceram 46,2%, saltando de 13 vítimas em 2019 para 19 em março deste ano.
A pesquisa também indicou que o número de denúncias feitas através de uma linha telefónica dedicada ao registo de violência contra as mulheres caiu no período de isolamento social, passando de 8.440 em março de 2019 para 7.714 em março de 2020, uma redução de 8,6%.
O Brasil atingiu no domingo um total de 2.462 mortes provocadas pela pandemia de covid-19 e 38.654 casos de infetados, anunciou o Ministério da Saúde.
A nível global, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 164 mil mortos e infetou mais de 2,3 milhões de pessoas em 193 países e territórios. Mais de 525 mil doentes foram considerados curados.