SAÚDE QUE SE VÊ

Covid-19: Cuidados com a saúde visual

CANAL S+ / LP
17-04-2020 23:54h

Em entrevista ao S+, o oftalmologista Augusto Magalhães, faz uma análise à situação atual da especialidade e deixa alguns conselhos para a população cuidar da saúde visual, em tempos de pandemia.

Têm sido reportados, em alguns doentes com Covid-19, episódios de conjuntivites. A sua incidência varia de estudo para estudo (0,8%-5%), contudo,  “não há a certeza absoluta de que haja a transmissão do vírus por via conjuntival”, realça Augusto Magalhães. Existem ainda outras queixas associadas a doentes infetados, como a sensação de olho seco, sensação de areia e ardência.

Sendo esta uma pequena e desconhecida evidência há, pelo menos do ponto de vista teórico, duas razões importantes para ter cuidado com a saúde visual e com a transmissão através dos tecidos oculares, como explica Augusto Magalhães.

ÓCULOS

Tendo em conta que os óculos são compostos por lentes, que são normalmente acrílicas ou de vidro, e por umas hastes constituídas por substâncias que mantêm a viabilidade do vírus, durante horas ou dias, como o plástico, metal ou de acetato, Augusto Magalhães, explica que há alguns aspetos importantes a reter, “não para quem se encontra em permanente isolamento, mas sim, para quem está a trabalhar e tem tendência de os colocar noutras superfícies.”

Para quem usa óculos fica o apelo reforçado para que haja uma constante lavagem das mãos e dos óculos, com alguma regularidade, e para que se evite colocar e tirar os óculos com demasiada frequência.

LENTES DE CONTACTO

Relativamente às lentes de contacto os cuidados têm de ser agora mais rigorosos, como a lavagem das mãos com água e sabão, a secagem das mãos com toalhetes de preferência descartáveis e de papel e, é igualmente importante que os portadores de lentes descartáveis e não diárias, desinfetem o recipiente onde guardam as lentes durante a noite, refere o presidente do Colégio de Oftalmologia da Ordem dos Médicos. 

Se houver algum episódio de contacto com doentes Covid-19, as lentes e o estojo onde estas foram acondicionadas no dia anterior, devem ser eliminados. “Existe alguma ideia de que as lentes de silicone gel são mais propensas a absorver os vírus da superfície mas ainda não está provado”, avança.

Segundo Augusto Magalhães, neste momento, é preferível o uso de lentes de contacto diárias, isto porque, atualmente, ainda não se sabe ao certo a eficácia dos atuais desinfetantes oculares face a este novo coronavírus. Aconselha ainda a que os doentes infetados com Covid-19 façam uma interrupção no uso das lentes de contacto.

ATIVIDADE PROGRAMADA

A atividade programada foi largamente reduzida, em resultado do risco de contágio. No entanto, “esta suspensão da atividade programada não implica uma interrupção absoluta da prestação de cuidados de saúde visual ao pacientes”, avança.

“Não queremos que ninguém se infete, nem queremos ser agentes da cadeia de transmissão  mas também não permitimos que alguém fique cego por falta de cuidados durante este período. Para receber pacientes com elevada necessidade de cuidados foram interrompidas as consultas e os exames não prioritários, com o objetivo de libertar espaço nas salas de espera do hospital.”, acrescenta o médico especialista em oftalmologia.

SERVIÇOS EM FUNCIONAMENTO

O serviço de urgência encontra-se a funcionar interruptamente mas, para quem necessitar de recorrer a este serviço, Augusto Magalhães, apela para que antes de o fazerem tentem contactar o serviço para serem aconselhados quanto à necessidade ou não de deslocação. 

Há também uma associação criada pela Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO), a COESO – Consultórios de Especialidade de Oftalmologia. Esta linha foi criada para o atendimento médico ao público e encontra-se em funcionamento 12 horas por dia, das 08h00 às 20h00, com vários profissionais disponíveis para analisar a situação de cada paciente.

Por outro lado, as áreas críticas continuam em funcionamento, nomeadamente a retina cirúrgica e médica, as injeções intraoculares em pacientes portadores de doenças como a Degenerescência macular relacionada com a idade (DMI) e glaucomas. Em tempos de pandemia, as equipas foram divididas em dois grupos para uma quarentena rotativa.

No bloco operatório, para além das cirurgias urgentes, “estão também a ser feitas as prioritárias, nomeadamente no caso dos glaucomas em doentes que descompensaram.”, conclui.

O REGRESSO DA ESPECIALIDADE À ATIVIDADE 

Para o progressivo regresso à atividade na área da oftalmologia, Augusto Magalhães, deixa algumas das medidas que serão obrigatoriamente adotadas, como a realização de uma triagem com inquérito epidemiológico aos doentes, um controlo administrativo e do meio ambiente, através da desinfeção e limpeza dos espaços. “Todos os médicos devem ser rigorosos (…) no cumprimento destas medidas” para que não seja revertido o quadro epidemiológico.

O presidente do Colégio de Oftalmologia da Ordem dos Médicos deixa ainda alguns conselhos para a população em geral que, devido ao isolamento e ao recurso excessivo de dispositivos móveis, apresentam alguns sintomas oculares de ardência, sensação de corpo estranho e olho seco.

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