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Covid-19: Sindicato dos professores diz que ensino à distância é impraticável em Cabo Verde

LUSA
17-04-2020 15:27h

O presidente do Sindicato Nacional dos Professores cabo-verdianos (SINDEP), Nicolau Furtado, disse hoje que o ensino à distância “é impraticável” em Cabo Verde e sugeriu retoma das aulas após fim do estado de emergência decido à covid-19.

“Não é uma alternativa viável, que sirva os alunos, porquanto não existem condições humanas e materiais que permita a concretização deste tipo de ensino”, disse Nicolau Furtado à agência Lusa, considerando que este sistema não terá resultado nenhum, que é uma “brincadeira” do Ministério da Educação apenas “para animar a malta”.

O representante da classe docente começou por congratular-se com a prorrogação do estado de emergência até 02 de maio nas ilhas com casos positivos do novo coronavírus e aconselhou o Ministério da Educação a “arrepiar caminho” face à possibilidade de implementação do sistema de ensino à distância no arquipélago no terceiro trimestre do ano letivo.

O responsável também notou que poderá haver uma discriminação dos alunos, tendo em conta que há uns que nem sequer têm eletricidade em casa e só têm o mínimo de internet em computadores móveis, televisão e rádio.

“O sistema de educação à distância é um cenário impraticável em Cabo Verde. Mesmo os países ainda muito mais desenvolvidos não conseguem chegar a todos os alunos, pior será em Cabo Verde, que não tem as mínimas condições”, sustentou o presidente do SINDEP, entendendo que se deve esperar pela normalização da situação da pandemia no país.

E, caso seja necessário, sugeriu, deve-se prolongar o término do ano letivo até 31 de julho, “com algumas adaptações e arranjos dos conteúdos”, e começar o próximo ano letivo em outubro, “por forma a não prejudicar as férias dos professores e alunos”. 

Para Nicolau Furtado, mesmo perdendo três semanas, o terceiro trimestre do ano letivo ainda poderá continuar sem problemas, com arranque das aulas no fim do estado de emergência.

“Não haverá problema nenhum, é só fazer adaptações dos programas e conteúdos e avançar”, disse o representante do professores cabo-verdianos.

Quanto à avaliação e apuramento das classificações do 1.º ao 11.º anos de escolaridade, sugeriu que devem ser feitos nos mesmos moldes, decidindo a passagem ou não, “mediante critérios claros e bem definidos”.

A preocupação maior, segundo Nicolau Furtado, são os alunos do 12.º ano, que são candidatos às bolsas universitárias no país e no estrangeiro. 

“Na impossibilidade de terminar o terceiro trimestre, proceder-se-á a avaliação baseada nos trimestres anteriores e determinar a média”, sugeriu.

Nicolau Furtado considerou que é “obrigação” do Ministério da Educação auscultar os sindicatos, bem como os professores, pais e encarregados de educação antes da tomada de qualquer decisão.

“O Ministério da Educação devia pensar que nem todos os alunos têm as mesmas condições económicas e nem os professores estão preparados para o uso de metodologias de ensino à distância”, afirmou o sindicalista nas declarações à Lusa, insistindo na necessidade do diálogo.

O Governo cabo-verdiano ativou em março o Plano Nacional de Contingência para covid-19, prevendo como medida preventiva a antecipação do início do período de férias da Páscoa para 23 de março, em todo o arquipélago.

Desde então, com a declaração do estado de emergência em vigor desde 29 de março e agora prorrogada, as escolas de Cabo Verde não voltaram a abrir, tendo o Governo admitido, entretanto, a possibilidade de reinício das aulas através de um modelo de tele-escola.

Na mensagem à nação, em que anunciou que vai pedir ao parlamento a prorrogação do estado de emergência, o Presidente de Cabo Verde não descartou a possibilidade de o ano escolar terminar de imediato, apesar de as condições de reabertura das escolas estarem dependentes do evoluir da pandemia da covid-19 no arquipélago nos próximos dias.

Cabo Verde conta até ao momento com 56 casos confirmados de covid-19 no arquipélago, um dos quais levou à morte do doente e outro já foi considerado recuperado. Deste total, quatro registaram-se na ilha de Santiago e um na ilha de São Vicente.

Os restantes 51 foram registados na Boa Vista, sendo que além dos 50 num hotel que estava de quarentena, foi confirmado ainda em março outro caso, de uma turista dos Países Baixos.

Cabo Verde cumpre hoje 20 dias de estado de emergência para conter a pandemia provocada pelo novo coronavírus, com a população obrigada ao dever geral de recolhimento, com limitações aos movimentos, empresas não essenciais e escolas fechadas, além de suspensas todas as ligações interilhas e para o exterior suspensas.

A nível global, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 145 mil mortos e infetou mais de 2,1 milhões de pessoas em 193 países e territórios. Mais de 465 mil doentes foram considerados curados.

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