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Covid-19: Instituições cada vez mais solicitadas para apoiar pessoas com dependências

LUSA
17-04-2020 11:31h

O Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) está a procurar salvaguardar “uma almofada” de apoio financeiro a instituições cada vez mais solicitadas para apoiar pessoas com dependências, no âmbito da pandemia da covid-19.

O diretor do SICAD, João Goulão, disse à Lusa que as equipas que fazem trabalho de rua e atendimento a pessoas com dependências estão a ser também elas confrontadas com falta de equipamento de proteção e com riscos acrescidos de infeção com o novo coronavírus, que obrigam a ter equipas de substituição na retaguarda e podem inclusivamente, para garantir o funcionamento sem interrupções destes serviços, levar à necessidade de contratar mais pessoas.

“Ao abrigo do Plano Operacional de Respostas Integradas, aquilo que estamos a tentar é que possa haver alguma almofada que permita às equipas recrutarem mais um ou outro elemento ou adquirirem materiais que lhes fazem falta para acorrer às necessidades dos seus utentes. Dar-lhes algum conforto, alguma margem de progressão, e se tiverem que incorrer em despesas acrescidas, ter a garantia de que o Estado as ajudará nesse acréscimo de custos”, disse.

João Goulão elogiou a “enorme vitalidade e inventividade” por parte das equipas de proximidade que, apesar das dificuldades e desafios crescentes, têm permitido dar resposta e, “de uma forma geral, as coisas estão a correr bastante bem”.

Um exemplo são os jerricans de água e sabão que agora algumas equipas transportam, permitindo a que “as pessoas mais desestruturadas”, sem apoios e por vezes sem-abrigo, possam cumprir com uma das recomendações mais elementares, mas mais essenciais, no âmbito da epidemia de covid-19, que é a higienização frequente das mãos.

“Todos os dias há problemas novos a declararem-se, para os quais estamos a tentar encontrar soluções”, disse, destacando a colaboração das autarquias, que, frisou, são quem melhor conhece as realidades locais e quem melhor pode coordenar respostas sociais garantindo que o trabalho das várias instituições não deixa “territórios a descoberto”.

As práticas precárias de subsistência encontradas por muitos consumidores de drogas, mas também de álcool, estão postas em causa pela pandemia. É o caso dos arrumadores de carros, das pessoas que se prostituem, do pequeno tráfico, tudo atividades comprometidas que deixam estas pessoas sem acesso a bens de primeira necessidade, como a alimentação, mas também às substâncias das quais dependem e isso também tem aumentado a pressão sobre as equipas de rua.

João Goulão afirmou que uma das “preocupações centrais” é com os alcoólicos em síndroma de privação.

“Enquanto a privação de outras drogas, como os opiáceos, dificilmente causam situações que põem a vida em risco, com a privação alcoólica isso pode acontecer. Essa é uma das preocupações centrais que temos neste momento, sendo certo que a capacidade de intervenção a nível das urgências está consumida com outro tipo de prioridades”, disse.

Já entre os consumidores de drogas como a heroína são já visíveis os efeitos da pandemia na escassez de droga no mercado e as consequências para os dependentes.

“A escassez de opiáceos nos mercados, nomeadamente a heroína, tem conduzido as pessoas a aproximarem-se dos serviços para pedir ajuda. Os procedimentos de inclusão dos cidadãos nesses programas foram aligeirados, tornados mais ágeis e mais rápidos. Houve toda uma série de adaptações”, referiu o diretor do SICAD.

João Goulão defendeu também restrições na publicidade ao jogo online, pela possibilidade de pessoas em situação de “vulnerabilidade acrescida” poderem desenvolver compulsões num período em que estão fechadas em casa e com muito tempo livre.

O parlamento aprovou entretanto medidas que limitam o acesso aos jogos online durante o estado de emergência.

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