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Covid-19: A reindustrialização não se faz com ‘chavões’, faz-se com medidas concretas – Álvaro Santos Pereira

LUSA
17-04-2020 08:49h

O economista Álvaro Santos Pereira diz que a reindustrialização não se faz com ‘chavões’, mas com medidas concretas e considera que a atual crise provocada pela covid-19 vai ser uma oportunidade para captar investimento estrangeiro.

O tema da reindustrialização da economia voltou a surgir no debate público na sequência da atual crise económica provocada pela pandemia covid-19.

Ainda no passado sábado, em entrevista à agência Lusa, o primeiro-ministro, António Costa, dizia que com a atual crise “a Europa vai ter seguramente de compreender que vai ter de reforçar muitíssimo a sua base industrial” e considerava indispensável que Portugal estivesse “na primeira linha” desse “reforço da base industrial e da capacidade de produção nacional”, até porque, explicava, Portugal é dos países onde ainda se sabe “fazer muitas das coisas que a Europa se habituou a deslocalizar para o Oriente.”

Agora, em entrevista à agência Lusa, o antigo ministro do governo liderado por Pedro Passos Coelho diz-se à vontade para falar sobre um tema em que se diz pioneiro quando, enquanto ministro da Economia, lançou a Estratégia para o Fomento Industrial.

“A reindustrialização ou o fomento industrial está nas nossas mãos. Mas não se faz só com chavões, faz-se com medidas concretas de melhorar a regulação, melhorar a fiscalidade e melhorar a atratividade de Portugal para que consigamos atrair empresas. Acima de tudo, faz-se com uma estratégia que não pense Portugal a um ano ou dois anos, mas pensar Portugal e a Europa a 10, 15, 20 anos”, diz Álvaro Santos Pereira, atualmente na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), onde ocupa o lugar de diretor de estudos específicos por país do departamento de Economia.

Segundo o economista, foi essa estratégia que tentou lançar em 2013, mas, para que tal aconteça, lembra o antigo ministro, “é preciso criar as condições”. Até porque essa reindustrialização só será possível “se tivermos recursos financeiros, recursos humanos e se formos atrativos ao nível de investimento”, afirma.

A Estratégia de Fomento Industrial para o Crescimento e o Emprego 2014 ‑2020 foi lançada por Álvaro Santos Pereira ainda em 2013, mas acabaria por ser concretizada do ponto de vista legislativo, no final desse ano, já com António Pires de Lima a ocupar o cargo de ministro da Economia.

“Ninguém vai investir em Portugal quando ainda temos uma fiscalidade que não é nada atrativa para os investidores estrangeiros. Não vão investir em Portugal, pelo menos em muitas áreas, se não tivermos recursos humanos necessários para atrair exatamente essas empresas. A reindustrialização do país é sem dúvida necessária, assim como é importante investirmos nos nossos recursos naturais”, sublinha o economista.

O antigo governante sublinha ainda a importância de se olhar para a questão mineira e da agricultura, uma vez que, apesar de não serem setores ‘sexy’, “são fundamentais para o futuro comum" e para se conseguir "ter um país mais próspero”.

Álvaro Santos Pereira diz que a crise profunda vai trazer oportunidades para Portugal e países como Portugal.

“As grandes empresas aperceberam-se com esta crise de que não é viável continuar a ter a cadeia das suas produções somente localizada num país, dependente num só país”, ou seja, prossegue o economista, “o que vai acontecer, quase de certeza, nos próximos tempos, é que muitas dessas empresas vão reconsiderar as localizações de suas empresas e das suas fábricas, pelo menos parte da fabricação”.

Ora, esta mudança “é uma grande oportunidade para países como Portugal”, defende Álvaro Santos Pereira, até porque o país “tem uma indústria ótima em muitos setores e que é muito bem considerada em muitos setores da indústria”.

Assim, o economista diz que o que o país precisa de fazer é não só utilizar a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), mas “também criar os incentivos necessários para atrair essas empresas que vão querer voltar à Europa nos próximos anos”.

O “Grande Confinamento” levou o Fundo Monetário Internacional (FMI) a fazer previsões sem precedentes nos seus quase 75 anos: a economia mundial poderá cair 3% em 2020, arrastada por uma contração de 5,9% nos Estados Unidos, de 7,5% na zona euro e de 5,2% no Japão.

Para Portugal, o FMI prevê uma recessão de 8% e uma taxa de desemprego de 13,9% em 2020.

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