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Covid-19: Sonho americano do basquetebolista Diogo Brito teve fim agridoce

LUSA
15-04-2020 08:44h

Os Utah State Aggies qualificaram-se pela segunda temporada consecutiva para a fase final do campeonato universitário norte-americano de basquetebol, mas a pandemia de covid-19 antecipou o desenlace do ciclo formativo de Diogo Brito no estrangeiro.

“É um sabor agridoce. Fomos campeões e ficámos muito contentes, mas, poucos dias depois, descobrimos que não poderíamos jogar o ‘March Madness’ [Loucura de Março, em tradução livre] e isso deixou-nos completamente devastados. Os dias seguintes a essa notícia foram muito difíceis para mim”, admitiu o base, de 22 anos, à agência Lusa.

A National Collegiate Athletic Association (NCAA), organismo central do desporto universitário dos Estados Unidos, cancelou um dos eventos anuais mais aguardados do país em 12 de março, horas depois de ter anunciado jogos à porta fechada e assistido à suspensão por tempo indefinido da principal liga de basquetebol do país (NBA).

Disperso por 14 cidades, o ‘March Madness’ deveria proporcionar eliminatórias entre 68 equipas durante 20 dias até à final em Atlanta, agendada para 06 de abril, mas um desfecho inédito em 81 edições veio trazer “muita mágoa” para o finalista Diogo Brito, que tinha acabado de repetir o título regional no quarto e último ano pelos Aggies.

“Os atletas dos desportos de primavera, como o beisebol ou o atletismo, podem disputar mais uma época, ao contrário das modalidades de inverno. Não esperava esta despedida, e saber que não terei outra oportunidade deixa-me ainda pior”, lamentou o poveiro, com médias de 8,5 pontos, 4,5 ressaltos, 2,8 assistências e 1,4 roubos de bola por jogo.

Segunda classificada na fase regular, a formação de Logan, no estado oeste de Utah, avançou para a última fase em 07 de março, graças ao triunfo emotivo sobre os San Diego State Aztecs (59-56), líderes da conferência Mountain West e sexto melhor conjunto do ‘ranking’ nacional, numa final de “altos e baixos” a espelhar toda a temporada.

“A equipa evoluiu de maneira muito peculiar. Começámos bem e ganhámos alguns jogos contra equipas difíceis, mas dezembro e janeiro foram meses complicados. Mas, como vimos que chegar ao ‘March Madness’ ainda estava ao nosso alcance, tentámos não nos deixar influenciar pela negatividade e lá conseguimos recuperar o foco”, observou.

Os Utah State beneficiaram da “energia e confiança” transmitida pelo treinador Craig Smith e contaram com a ajuda portuguesa de Diogo Brito e Neemias Queta, nome que gravita no radar da Liga norte-americana (NBA), para cumprir os objetivos pela metade, ainda que a anulação do ‘March Madness’ tivesse responsabilidade alheia.

“A expectativa passava por ganhar o primeiro jogo. É assim que se enfrenta um torneio destes, porque qualquer jogo pode dar vitória ou derrota. Acreditávamos que podíamos chegar longe, talvez à ‘final four’, mas nunca se sabe o que acontece ali”, descreveu o internacional sub-20, presente em todos os 103 jogos dos Aggies desde 2017/18.

A memória ainda retém a “experiência incrível” do ano passado, limitada à derrota com os Washington Huskies (61-78) nos 32 avos de final, contexto que não impediu Diogo Brito de valorizar um “torneio único e dos melhores a nível mundial”, marcado pela ocasião de ter jovens a competir em “pavilhões cheios e com visibilidade a nível nacional”.

Ultrapassado o plano desportivo, o base optou por permanecer nos Estados Unidos e aproveitar as medidas de restrição face ao novo coronavírus para se isolar em casa com Neemias Queta, definindo como desígnio a conclusão do curso de Ciências do Desporto, com um ‘minor’ (área secundária) em Psicologia, pela universidade de Utah.

“O clube não me enviou um plano individual, porque já sou sénior. Estou um bocado à minha conta, mas vou falando com o preparador físico. Faço exercício quando posso, tenho feito os trabalhos da escola e tento manter a cabeça ocupada com coisas que antes não fazia tanto e até são divertidas, como cozinhar, ler ou jogar consola”, partilhou.

Quando sai à rua, Diogo Brito depara-se com “muitos carros, ruas desertas de pessoas e contactos sociais muito reduzidos”, até porque Utah vive em estado de emergência desde 06 de março, quando registou o primeiro caso de infeção, medida tomada “na altura certa” para acautelar um dos estados norte-americanos menos vitimados pela covid-19.

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