O estado de emegência foi decretado em Portugal a 18 de Março, pela primeira vez desde o 25 de novembro de 1975, e é já possível fazer alguns balanços. Um estudo indica que houve um aumento de quase 30 por cento na dispensa de ansiolíticos e antidepressivos e os dados da linha de apoio psicológico do SNS 24 também cresceram exponencialmente.
Este crescimento não poderia ser medido à partida, explica a psiquiatra Círia Pereira, já que tudo é novo nesta pandemia. No entanto, a especialista reconhece que, perante a situação de medo que estamos a viver, o aumento da sintomatologia da linha ansiosa e depressiva não pode ser uma surpresa
Com a confirmação da não reabertura das escolas e do não levantamento ou abrandamento de algumas medidas de contenção, o segundo mês de confinamento no qual agora estamos a entrar pode trazer mais riscos para a Saúde Mental. Círia Pereira reconhece que Portugal aderiu bem ao pedido de isolamento, nomeadamente por comparação com Espanha, mas que o isolamento social não é algo normal, mesmo que cerca de 900 mil portugueses vivam sozinhos.
Círia Pereira sublinha que a incerteza é a nossa realidade de momento, mas que não podemos ficar fechados em casa para sempre. Existem dúvidas sobre como vai ser o Ensino, sobre a estabilidade de empregos e sustentabilidade da Economia e sobre quais as estratégias para combater a Covid-19, nomeadamente a tão falada imunidade coletiva.
A Saúde Mental sempre esteve associada ao estigma, que pode ser potenciado ainda mais nesta altura de confinamento. É preciso perceber que o medo é normal e que a ansiedade é uma resposta normal do corpo. É preciso sublinhar que quem tenha sintomas de medo isso não significa que sejam fracas. A resposta não deve oferecer dúvidas: há que pedir ajudar, um conselho que serve também para os profissionais de saúde.