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REPORTAGEM: Covid-19: Conceição está triste por não poder ir à missa em Cabo Verde, mas tem esperança

LUSA
11-04-2020 11:43h

As perguntas são muitas, tristeza e ansiedade também, mas Conceição Moniz encontra uma única resposta para não poder ir à missa em Cabo Verde e espera o fim do coronavírus para “nunca mais” faltar às celebrações da Pascoa.

Aos 65 anos, Conceição Moniz, reformada do Estado de Cabo Verde, frequenta a igreja “desde que se conhece como pessoa”, por influência dos pais, que também eram religiosos.

E nunca imaginou viver algo assim: passar uma Semana Santa e a Páscoa sem poder ir à igreja, para assistir à missa e não poder contar no grupo coral da Igreja Matriz da cidade da Praia, de que faz parte “há muitos anos”.

“A vivência é intensa, estou mesmo triste. Espero que não aconteça mais, porque não podemos ir à igreja, assistir todas as cerimónias, vivenciar a paixão de Cristo como estamos acostumados”, lamentou a sexagenária, em declarações à agência Lusa.

“Todos os santos dias rezo o terço e o rosário normal, faço a Via Sacra. Desde que esta pandemia começou, peço pelo mundo”, prosseguiu, manifestando-se, no entanto, resignada, porque se trata de um “motivo de força maior”.

Conceição Moniz adianta que, espiritualmente, vai vivendo com orações em casa e assistindo televisão, respeitando o estado de emergência, declarado pelo Presidente cabo-verdiano.

Há uma semana, no Domingo de Ramos, disse que não resistiu e foi à Igreja Matriz da Praia, encontrou a porta semiaberta, entrou, mas não conteve as lágrimas por ver aquele espaço enorme praticamente vazio, nesse dia em que tradicionalmente está completamente cheio de fiéis.

“É uma vivência diferente, uma dor inexplicável, mas entendemos tudo. Os cristãos vivem a sua vida onde está, da forma que está e como o tempo permite”, salientou.

A pandemia do novo coronavírus obrigou a Igreja Católica a restringir encontros, com o Vaticano a elaborar um decreto com indicações gerais a serem seguidas na organização das celebrações da Semana Santa, que termina no domingo de Páscoa.

Em Cabo Verde, os bispos das dioceses de Santiago, Arlindo Furtado, e do Mindelo, Ildo Fortes, anunciaram a suspensão da celebração comunitária da Eucaristia “até ser superada esta situação”.

“Como a Festa da Páscoa não pode ser transferida, determinamos que as celebrações do Tríduo Pascal decorram sem a participação do povo, nas Igrejas catedrais e nas Igrejas paroquiais, observando as deliberações das autoridades civis e de saúde no que diz respeito aglomerações de pessoas”, determinaram os bispos de Cabo Verde, numa nota.

Os responsáveis da Igreja Católica pediram ainda aos fiéis para se “unirem na oração a partir das suas casas”, bem como para assistirem às celebrações através da televisão e nas suas páginas na internet.

Cabo Verde cumpre o estado de emergência para conter a pandemia provocada pelo novo coronavírus, com a população obrigada ao dever geral de recolhimento, com limitações aos movimentos, empresas não essenciais fechadas e todas as ligações interilhas e para o exterior suspensas.

O diploma proíbe a realização de celebrações de cariz religioso e de outros eventos de culto que implicam uma aglomeração de pessoas.

Também a realização dos funerais está condicionada à adoção de medidas organizacionais que garantem a inexistência de aglomerados de pessoas e o controlo das distâncias de segurança, fixando-se o limite máximo de presenças de 20 pessoas.

Cabo Verde regista sete casos do novo coronavírus, nas ilhas da Boa Vista (4), Santiago (2) e São Vicente (1), e um óbito.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já provocou a morte a mais de 100 mil pessoas e infetou mais de 1,6 milhões em 193 países e territórios.

Dos casos de infeção, mais de 335 mil são considerados curados.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

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