As padeiras de Vale de Ílhavo, onde os folares ainda são cozidos em fornos a lenha, queixam-se de uma redução de mais de 50% nas vendas desta iguaria muito procurada na Páscoa, devido à pandemia da covid-19.
Por estes dias, esta pequena localidade de Ílhavo, no distrito de Aveiro, costumava andar numa azáfama com as padeiras a trabalhar de dia e de noite para satisfazer os milhares de encomendas de folares que chegavam de vários pontos do país e até do estrangeiro, mas este ano "está a ser diferente".
“Nestas alturas, cozíamos uma grande quantidade de folares para as escolas, lares e fábricas, que agora estão fechadas, e também havia pessoas que vinham de tudo quanto era lado para levar folares e agora não vêm, porque não podem sair de casa”, disse à Lusa Alzira Vasconcelos, padeira há 40 anos.
Apesar de muitos clientes habituais terem cancelado as encomendas, Alzira Vasconcelos conta que teve muitas encomendas de “fregueses novos” e diz que as vendas estão a superar as expectativas iniciais.
“Ontem [quarta-feira] cozemos muito em comparação ao ano passado e hoje também veio muita encomenda. Eu sou capaz de chegar aos 50% nas vendas”, disse a padeira de 54 anos, que este ano conta com uma ajuda extraordinária de dois filhos, duas noras, uma prima e uma amiga.
Com a maior parte das encomendas a ser entregue em casa dos clientes, ainda há quem opte por se deslocar à padaria, mas Alzira Vasconcelos garante que “está tudo muito controlado” e que não tem havido aglomeração de pessoas ao balcão.
“Temos alguns clientes a vir a casa, apesar de serem poucos. Mas as pessoas têm cuidado e quando vêm para entrar, se vêm aqui alguém ao balcão, já não passam da porta para dentro”, explicou.
Algumas portas ao lado, na padaria de Maria Alcina Sacramento, o cenário não é diferente. “Colocámos uma mesa atravessada no meio do alpendre e só entra uma pessoa de cada vez e até agora não temos tido problema nenhum”, relatou a filha mais velha da falecida Dona Celeste, que foi uma das padeiras mais conhecidas de Vale de Ílhavo.
Maria Alcina, de 75 anos, coze pão apenas aos sábados para preservar a tradição que se mantém na família há quatro gerações, mas na semana da Páscoa trabalha praticamente toda a semana para satisfazer as encomendas de folares que chegam a toda a hora.
Este ano, com o fecho de muitas empresas devido à pandemia da covid-19 e à proibição de deslocações para fora do concelho de residência no período da Pascoa, a padeira diz que houve muitas encomendas canceladas.
“Tinha encomendas do Porto, de Coimbra e de outros sítios que cancelaram e tinha uma encomenda de 90 folares de quatro ovos para uma empresa e, como está fechada, também cancelou”, disse Maria Alcina.
Carlos Silva Santos, um dos poucos homens na profissão em Vale de Ílhavo, queixa-se de que este ano o prejuízo vai ser “muito grande”, devido à pandemia da covid-19.
O padeiro deixou de poder vender pão e folares no Mercado Municipal de Ílhavo, que se encontra encerrado desde que foi declarado o estado de emergência, tendo optado por colocar uma carrinha estacionada no exterior daquele equipamento para fazer entregas de encomendas.
As padeiras também costumavam vender muitos folares na Rota das Padeiras e na mostra de folares de Vale de Ílhavo dois eventos promovidos pela Câmara e pela Junta de São Salvador, respetivamente, que se realizavam em março e que foram suspensos devido à pandemia da covid-19.
Este ano, as padeiras decidiram aumentar o preço de cada ovo em 10 cêntimos, para 2,50 euros, mas o preço do bolo (folar sem ovos) mantém-se nos 4,5 euros por quilo.