Mais de 20 anos depois do início de uma carreira de excelência, que o coloca no lote dos melhores de sempre que em Portugal praticaram a modalidade de hóquei em patins, Reinaldo Ventura estaria longe de imaginar que os possíveis últimos meses do seu percurso na alta competição poderiam ter este dramatismo… longe do ringue.
No último ano de contrato com os italianos do GS Hockey Trissino, emblema de uma pequena cidade na província de Vicenza e localizada no nordeste de Itália, o jogador português deu por si no centro nevrálgico da pandemia de COVID-19. O acordar para a realidade veio com a infeção de um companheiro de equipa.
Apesar de ser um estrangeiro a viver temporariamente no país, Reinaldo Ventura partilha a dor e a tristeza da nação italiana e procura manter-se em contacto com os colegas.
São já sete semanas em isolamento profilático, onde nem para fazer as compras de bens essenciais tem saído de casa – é a mulher quem abraça essa missão. Para o hoquista, o tempo é de aproveitar esta inesperada disponibilidade para a família, descendo até à garagem diariamente para brincar com os filhos e oferecer-lhes assim uma pequena compensação pelo momento que estão a viver.
Pese embora o ambiente relativamente calmo que se vive em casa, não há como ignorar o que se passa lá fora.
A quarentena não reúne, objetivamente, as condições ideais para a manutenção de uma boa forma física. Para um atleta de alta competição, essa evidência é ainda mais gritante. Perguntámos a Reinaldo Ventura o que tem feito – ele e o clube – para minimizar os danos.
O futuro próximo e a solução que ditará a conclusão da época desportiva ainda são uma incógnita. O jogador português considera que Itália vai demorar a recuperar da paralisação em que está mergulhada e que isso torna muito difícil retomar a competição a tempo de completar a atual temporada.
Mas ultrapassada essa fase de indefinição, a vida pós-COVID da família Ventura será feita em solo português.
E a imagem que leva dos italianos? Aquelas gentes que há umas semanas víamos a cantar nas janelas e a transmitir ânimo ao país e ao mundo? Será hoje demasiado esmagadora a dor pelos milhares que não resistiram ao vírus?
Reinaldo é um português em Itália que se congratula por, até ao momento, Portugal estar a responder de forma positiva à ameaça do coronavírus. Mas a mensagem que deixa, diretamente do centro desta pandemia, é clara: o tempo não é de baixar os braços, de perigar o que já se conseguiu. É um tempo de sacrifício, se não quisermos saber o que é hoje ser-se italiano.