SAÚDE QUE SE VÊ

Plano propõe inclusão da resistência aos antibióticos nos currículos escolares

LUSA
23-10-2019 10:48h

A inclusão do problema da resistência aos antibióticos nos currículos escolares é uma das medidas previstas no Plano Nacional de Combate à Resistência aos Antimicrobianos 2019-2023, divulgado terça-feira, que tem como objetivo “melhorar a saúde da população”.

Homologado pela Direção-Geral de Saúde, a Direção-Geral da Alimentação e Veterinária e a Agência Portuguesa do Ambiente, no âmbito do conceito “Uma Só Saúde”, o plano é “uma ferramenta e um referencial importante para o desenvolvimento da estratégia de combate à resistência aos antimicrobianos, que configura um problema de saúde pública”, referem as entidades.

O plano assenta em seis objetivos globais: “Prosseguir a implementação do conceito de ‘uma só saúde’”, “melhorar o conhecimento sobre a resistência aos antimicrobianos”, “fortalecer a base de conhecimentos e evidência através da vigilância epidemiológica, monitorização ambiental e investigação” e “reduzir a incidência da infeção”.

“Otimizar o uso dos antimicrobianos” e “manter o compromisso e aumentar o investimento sustentado em novos medicamentos, ferramentas de diagnóstico, vacinas e outras intervenções relevantes” são outros objetivos do plano.

Para promover “uma melhor compreensão e consciência para a preservação destes fármacos”, o plano prevê a inclusão dos temas da terapêutica antimicrobiana e da Resistência aos Antimicrobianos (RAM) nos currículos escolares.

Para isso, deve ser reativado o projeto “e-bug em Portugal”, estabelecendo parceria entre os Ministérios da Saúde e da Educação, com inclusão de conteúdos específicos nos programas e manuais escolares.

Devem ser também aprofundados os conteúdos formativos sobre esta matéria nos currículos dos cursos das áreas da saúde, incluindo medicina, medicina dentária, farmácia, enfermagem, e “fazer da utilização correta de antibióticos” e controlo da RAM “um componente da formação profissional, obrigatório ou com certificação” nestas áreas.

O documento defende também que “a ação e o investimento para combater o aumento da RAM devem ser apoiados por estratégias claras e com uma relação custo-eficiência equilibrada”.

“Compreender como a resistência se desenvolve e se dissemina, incluindo como a resistência circula dentro e entre seres humanos e animais e através dos alimentos, água e meio ambiente, é fundamental para o desenvolvimento de novas ferramentas, políticas e regulamentares, e de estratégia no combate à resistência aos antimicrobianos”, sublinha.

As infeções mais difíceis de tratar ocorrem geralmente durante o internamento, sobretudo nas unidades onde estão os doentes mais graves, mas também onde se usam antibióticos de mais largo espectro e técnicas diagnósticas e terapêuticas mais invasivas.

Especialistas estimam que a RAM será responsável pela morte de 10 milhões de pessoas por ano em todo o mundo em 2050.

Segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Portugal terá uma média anual de mais de 1.100 mortes por infeções por bactérias muito resistentes até 2050.

“Esta é uma crise global que se aproxima, mas que o mundo pode evitar se desenvolver esforços nacionais e internacionais concertados”, lê-se no documento.

Segundo as entidades, o desenvolvimento do plano requer “uma ação sustentada, coordenada, e esforços complementares” dos cidadãos, dos profissionais de saúde humana e animal e do ambiente, da produção primária, da indústria agroalimentar e farmacêutica, dos agentes económicos e associações do setor, dos detentores de animais, da academia, dos gestores das unidades de saúde e das restantes áreas envolvidas, bem como dos decisores políticos.

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