A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) quer aproveitar as experiências locais, mas também a de países americanos para combater a lagarta-do-cartucho do milho em África, disse segunda-feira a representante da organização em Cabo Verde.
"Os americanos estão a conviver com a praga há muito tempo, os produtores já têm um conhecimento ancestral de como gerir e têm um conhecimento que vem de muita aprendizagem. É isso que estamos à espera, que os produtores, aprendendo as lições de África, façam uma gestão integrada da praga. Com as condições que há aqui, ecológicas, sistémicas e produtivas, consigam fazer uma gestão que seja de baixo custo e que pode ser gerida por um produtor familiar", disse.
Ana Laura Touza falava à imprensa, na cidade da Praia, no âmbito de um 'workshop' regional sobre a gestão sustentável da praga da lagarta-do-cartucho do milho, que há três anos atingiu a maioria dos países africanos, ameaçando a produção nacional, o desenvolvimento agrícola e a segurança alimentar da população.
A lagarta-do-cartucho do milho está presente em todos os países da África subsariana, exceto o Lesoto, e tende a alastrar para outros países e regiões, como Egito, Índia, China e Indonésia, enumerou a representante da FAO em Cabo Verde.
Até agora, a responsável da FAO notou que as perdas do milho no continente têm sido milionárias, afetando sobretudo os pequenos produtores, que são a maioria em África e, consequentemente, a economia familiar.
Ana Laura Touza disse que já foram postos em prática algumas soluções de controlo, como as pesticidas, mas com resultados não sustentáveis, pelo que entendeu serem necessárias "alternativas urgentes" para o seu combate, como a experiência das americanas, onde a praga foi detetada há muitos anos.
A representante disse que a FAO e os seus parceiros internacionais vêm apoiando de várias formas os países africanos afetados, mas o objetivo é encontrar soluções e elaborar um programa global para fornecer consulta técnica aos agricultores.
O diretor da Divisão de Produção e Proteção Vegetal da FAO, Hans Dreyer, considerou também que a praga deve ser gerida sustentavelmente, com partilha de experiências, tecnologias, controlo biológico.
Mas também entendeu ser necessário mais coordenação e um plano de ação global para a tomada de medidas, uma vez que a praga constitui uma "grande ameaça" à segurança alimentar mundial.
Hans Dreyer disse também que é preciso apostar na pesquisa e inovação, e gerir a praga dentro do contexto africano, adaptando as medidas aos pequenos agricultores, bem como políticas de regulação, gestão e redução dos riscos das pesticidas.
"Os agricultores têm de estar no centro dos nosso esforços", afirmou o diretor da Divisão de Produção e Proteção Vegetal da FAO, para quem os investimentos e financiamentos são "fundamentais" para suportar os apoios técnicos.
Em Cabo Verde, a praga chegou em 2017, mas o país já é considerado um exemplo no seu combate, segundo a representante da FAO.
"Cabo Verde está a liderar África. O país tem uma experiência muito boa, por isso este 'workshop' está a ser realizado aqui", salientou Ana Laura Touza, que destacou o controlo biológico feito pelo país, com apoio de parceiros técnicos e financeiros, entre eles a FAO.
Além disso, indicou que todos os técnicos já foram capacitados, muitos deles no Brasil, a maioria dos produtores já foram sensibilizados e estão a ser construídos dois laboratórios, um na ilha de Santo Antão e outro na ilha do Fogo.
O ministro da Agricultura e Ambiente de Cabo Verde, Gilberto Silva, notou que o combate à lagarta-do-cartucho do milho é "uma luta que envolve a todos", uma vez que a praga provoca enormes estragos e a sua propagação continua elevadíssima.
Para o membro do Governo cabo-verdiano, é preciso um "efetivo controlo" da praga, que demanda "esforços técnicos, recursos financeiros avultados e uma estratégia muito efetiva", já que se trata de uma espécie que veio para ficar, mas que pode ser controlada.
O 'workshop', organizado pelo Ministério da Agicultura e Ambiente de Cabo Verde e pela FAO, terá a duração de quatro dias e conta com a participação de 120 delegados, representando países e organizações da África e do Médio Oriente.