O editorial da revista científica internacional “The Lancet” dedicado ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) e ao desinvestimento na saúde em Portugal “parece esquecer que houve uma crise económica em Portugal”, defendeu terça-feira o Governo, que reconhece “problemas passados”.
“Aquilo que o editorial da “Lancet” vem fazer é chamar a atenção que houve uma crise económica em Portugal. Talvez a “Lancet” não tivesse reparado, mas houve. Nós portugueses temos boa memória disso, tão boa memória disso que validámos políticas que levam ao equilíbrio das contas públicas e que naturalmente são muito importantes para garantir o nosso futuro”, disse hoje o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Francisco Ramos à entrada para uma conferência dedicada ao SNS, que hoje decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
“O editorial da Lancet é, eu diria, quase compatível com o programa eleitoral do partido que ganhou as eleições, ou seja, o SNS é uma peça fundamental do país e da realidade social dos portugueses. Ao fazer 40 anos naturalmente precisa de ser fortalecido, revitalizado […]. O Governo naturalmente reconhece problemas passados. Nos últimos quatro anos foi feita uma recuperação já muito sensível e naturalmente se espera que nos próximos quatro a Saúde possa ter o nível de financiamento público para continuar a revigorar o SNS”, disse o secretário de Estado.
Francisco Ramos defendeu que não se trata apenas de uma questão de dinheiro e que há novos e crescentes problemas, como envelhecimento da população, doentes crónicos ou com múltiplas patologias que requerem cuidados específicos e uma nova abordagem do SNS.
“Eu diria que o principal instrumento que o SNS hoje tem para responder a esses problemas são as urgências hospitalares e isso é um erro clamoroso, é, digamos, estarmos claramente a gastar recursos em unidades pouco úteis para os problemas que temos”, afirmou Francisco Ramos que afirmou ser necessário adequar a oferta de cuidados às necessidades.
“Não se fará de um momento para o outro, não se fará certamente sequer nos próximos quatro anos, mas é preciso de facto avançar”, disse.
Questionado sobre as preocupações enunciadas pelo Presidente da República em relação ao próximo Orçamento do Estado para a Saúde, o secretário de Estado escusou-se a fazer comentários.
O editorial de 12 de outubro da revista “The Lancet” dedicado ao SNS refere uma oportunidade de reverter a atual situação de fragilidade provocada pelo desinvestimento na saúde pública nos últimos anos.
O artigo dedicado ao SNS, que completou 40 anos no passado mês de setembro, enuncia alguns aspetos positivos, como a redução da mortalidade infantil e o aumento da esperança média de vida dos portugueses, mas refere também que "a redução do investimento público na saúde em Portugal entre 2000 e 2017 impediu a modernização dos hospitais públicos" e facilitou o "crescimento do setor privado".
Por outro lado, considera que há uma nova oportunidade de recuperar o SNS com a posição reforçada do atual primeiro-ministro António Costa nas eleições legislativas do passado dia 6 de outubro, que, durante a campanha eleitoral, prometeu reforçar o investimento público no Serviço Nacional de Saúde.