A associação que representa os optometristas acusa o presidente da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia de “difamar uma classe inteira” e garante que os profissionais licenciados em optometria devem ser colocados no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Para o presidente da Associação de Profissionais Licenciados em Optometria (APLO), as declarações feitas pelo presidente da Sociedade de Oftalmologia desviam-se “significativamente da verdade e difamam uma classe inteira de profissionais optometristas formados pelo Estado”.
Em causa estão declarações do presidente da Sociedade de Oftalmologia à Lusa nas quais considerou que deve ser reduzido o recurso a “consultas” a optometristas, indicando que estes profissionais se assumem como especialistas em visão, o que pode deixar na população uma ideia errada das suas competências.
O argumento é contestado pelo presidente da APLO, Raúl de Sousa, que garante que os optometristas “são especialistas a tratar erros refrativos, síndromes de visão binocular e são treinados para detetar quando há anomalias no olho”.
O representante dos optometristas recorda que são profissionais com uma licenciatura, e também com mestrados e doutoramentos, graus conferidos por universidades públicas portuguesas.
“[Os optometristas] seriam extremamente úteis, e é isso que diz a própria Organização Mundial da Saúde, dando consultas e prescrevendo óculos ou lentes de contacto a quem necessite nos centros de saúde”, defendeu em declarações à Lusa, indicando que é isso que acontece em países como Espanha ou Reino Unido.
Raúl de Sousa entende que optometristas e oftalmologistas devem trabalhar em colaboração e não em concorrência e defende que o essencial é “despertar a população para a importância de consultar regularmente um especialista dos cuidados da visão, seja ele um optometrista ou um oftalmologista”.
O presidente da APLO vinca que a “oftalmologia e a optometria são profissões diferentes”, sendo a oftalmologia uma especialidade médico cirúrgica. Garante que um optometrista que detete um problema que necessita de acompanhamento médico, deve encaminhar o caso para o oftalmologista.
A este propósito, refere-se ao Reino Unido, onde diz que 98% das consultas são dadas por optometristas, sendo os restantes casos seguidos no hospital por oftalmologistas.
Os optometristas consideram que é preciso garantir o acesso de todos os portugueses a cuidados de saúde primários da visão e defende que isso deve ser feito através de uma “correta delegação de responsabilidade entre os vários especialistas da saúde da visão”.
“Mesmo com a sua importância realçada pela Organização Mundial da Saúde e pela Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira, os optometristas têm sido colocados à margem das políticas que visam a melhoria dos cuidados de saúde da visão em Portugal”, lamenta Raul de Sousa, da associação que representa mais de 1.200 profissionais.
O responsável cita um estudo publicado este ano pela Universidade Nova de Lisboa que refere que a integração de optometristas no SNS “iria permitir uma mais eficiente gestão dos cuidados”, através da triagem de casos que depois podiam ser encaminhados para oftalmologia.
Questionado se considera existir alguma desconfiança em relação aos optometristas, Raúl de Sousa lamenta que a profissão não esteja regulamentada, apesar dos vários esforços que a Associação tem feito e entende que a regulamentação seria essencial para evitar que pessoas sem a formação adequada – a licenciatura – praticassem atos de optometria.
Quinta-feira, no Dia Mundial da Visão, a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia anunciou que está a criar uma rede de consultórios em todo o país para facilitar o acesso a “verdadeiros especialistas”, que querem atender utentes do SNS, através de convenção ou de uma espécie de ‘cheque-visão’.