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Plataforma ajuda médicos do São João a terem informação sintetizada sobre doentes

LUSA
10-10-2019 09:06h

O Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), no Porto, desenvolveu uma plataforma que, ao compilar a informação presente em textos clínicos, permite aos médicos acederem a informação mais "detalhada" e "sintetizada" sobre os doentes, revelou esta quarta-feira o responsável.

Em entrevista à agência Lusa, Afonso Pedrosa, diretor do serviço de inteligência artificial do CHUSJ, explicou que o projeto Digital Patient, desenvolvido em parceria com a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e a empresa Priberam, visa "retirar a informação mais útil" dos textos clínicos.

"A informação na área da saúde descrita em texto é, na sua maioria, representada pela informação gravada pelos médicos, que corresponde a cerca de 80%, e normalmente, do ponto de vista estatístico é uma informação que não é usada como fonte de dados porque é muito difícil retirar informação automaticamente a partir de um texto", referiu.

No âmbito deste projeto, iniciado em junho de 2016 e financiado pelo programa Norte2020 em 1,2 milhões de euros, os investigadores e especialistas em linguística recorreram à inteligência artificial (mineração de dados) para criar uma plataforma que conseguisse "ler automaticamente os textos gravados sobre os doentes", e, consequentemente, criasse "palavras-chave".

"Na prática, ao mesmo tempo que estamos a ler os textos, construímos um catálogo clínico que identifica um conjunto de problemas e particularidades do doente e que o associa a um conjunto de ideias-chave", afirmou, adiantando que essas palavras definem as patologias, alergias, cirurgias e medicações do doente.

Segundo Afonso Pedrosa, esta plataforma permite assim "traçar um retrato do doente de maneira relativamente fácil para o clínico", tornando-se útil não só durante o processo de entrada do doente no serviço de urgências, mas também durante as primeiras consultas médicas ou períodos de internamento.

"Estes dados são muito importantes em várias situações, especialmente quando se quer tomar uma decisão emergente", salientou.

À Lusa, o responsável adiantou que a plataforma, que integra o programa utilizado pelo hospital, está neste momento a ser testada por 30 clínicos, sendo que o objetivo é, até ao final deste ano, implementá-la no serviço de urgências e no futuro alarga-la a todo o hospital.

"Fizemos um questionário aos utilizadores sobre as mais valias e menos valias da plataforma, e todos afirmaram que a informação que lá está é fidedigna, bem catalogada e bastante útil em vários contextos. Neste momento, estamos só a fazer algumas melhorias na interface do sistema para também adicionar ferramentas de filtro", concluiu.

O projeto Digital Patient venceu, na categoria de 'Value Proposition' a edição de 2019 do prémio da HINTT, uma iniciativa que visa promover a maturidade digital das instituições de saúde e que destaca a sua contribuição para a adoção de estratégias eficientes.

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