Em entrevista ao S+, Henrique Barros, Epidemiologista e Presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, afirma que deve ser elaborado um plano de contingência para os sem-abrigo.
Com o país em estado de emergência o distanciamento social é a regra e dele resultam consequências para populações já por si mais isoladas socialmente, como é o caso das pessoas em situação de sem-abrigo.
Henrique Barros diz que esta é uma situação preocupante porque os sem-abrigo já tem habitualmente um acesso limitado aos serviços de saúde e a situação agrava-se quando perdem alguns dos seus pilares, que neste momento se encontram, muitos deles, em isolamento.
Defende que deve ser elaborado um plano de contingência com a colaboração das estruturas do poder central e local, das organizações sociais ou associações não governamentais em geral, que prestam habitualmente apoio social e sanitário.
“Tem que se redobrar o esforço de resposta, porque neste momento há o dobro da necessidade”, reforça Henrique Barros, Presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto.
Com a limitação de equipamento disponível para os profissionais, que estão a lidar com a Covid19 na linha da frente, o fornecimento de proteção individual para estes voluntários pode estar comprometido. O epidemiologista apela para que seja dada “uma aprendizagem na utilização destes equipamentos” pois “há um treino e uma formação que têm de ser feitos e eu sei que está a ser feita em alguns casos.”
O PAN já se pronunciou sobre esta matéria, defendendo também a necessidade de um plano de contingência estratégico para pessoas sem-abrigo, que preveja o “alojamento imediato” e rastreios à Covid-19.
Do lado da Ordem dos médicos, Miguel Guimarães, decidiu também lançar mais um apelo “ao espírito humanista e solidário que tem definido os médicos portugueses”, pedindo colegas voluntários para darem apoio telefónico às equipas de rua que acompanham os sem-abrigo. Mais de 100 médicos deram resposta positiva.
A Santa Casa da Misericórdia do Porto revelou estar a trabalhar em parceria com a Câmara Municipal do Porto, na “criação de uma reserva de dez camas para acolher situações de quarentena, destinadas a pessoas sem habitação regular e cuja fragilidade requer particular atenção”. Estas camas vão estar localizadas no Centro Hospitalar Conde Ferreira.
Em Coimbra, os sem-abrigo estão a ser encaminhados para instituições de acolhimento, através da Segurança Social, e monitorizados diariamente em relação à covid-19.
Já a Câmara Municipal de Lisboa vai transformar o Clube Nacional de Natação num centro de acolhimento de emergência para as pessoas em situação de sem-abrigo, durante a pandemia da covid-19. Este novo centro entra em funcionamento esta terça-feira, dia 31 de março, e tem capacidade para receber 40 pessoas, durante 24 horas por dia. Vários espaços da cidade e camarários, também já se encontram mobilizados de forma a responder a esta população mais vulnerável.
O Governo já anunciou que as Forças Armadas estão preparadas para atuar no caso de haver carência de voluntários que atualmente dão apoio à população sem-abrigo, nomeadamente para a distribuição de comida.