A poluição do ar caiu drasticamente nas cidades do mundo, pelas restrições impostas para fazer face à covid-19, mas “o mal já está feito” para os doentes, alerta a Aliança Europeia de Saúde Pública (EPHA na sigla original).
A organização admite que as condições de saúde causadas pela poluição crónica do ar das cidades podem levar a um aumento das taxas de mortalidade causada pela covid-19.
Mas, por causa da doença em termos globais, as cidades estão hoje muito mais limpas, como demonstram imagens de satélite, à medida que as restrições e o confinamento imposto pelos governos reduzem a circulação.
A EPHA diz, num comunicado divulgado hoje, que houve uma redução do dióxido de nitrogénio e de partículas finas que resultam do tráfego rodoviário, o que pode trazer algum alívio às pessoas infetadas pelo novo coronavírus, que provoca a doença covid-9.
Mas nota que a poluição crónica do ar é um importante propiciador de doenças pulmonares e cardíacas, ligadas a taxas altas de mortalidade por covid-19.
Rosamund Adoo-Kissi-Debrah, da Organização Mundial de Saúde (OMS), especialista em qualidade do ar, citada no comunicado, diz que seja qual for a forma de se usarem os números a verdade é que a poluição é uma questão de “vida ou de morte”.
“O estrago já está feito. Anos a inspirar ar poluído do fumo dos carros e de outras fontes enfraqueceram a saúde de todos aqueles que estão agora envolvidos numa luta de vida ou de morte contra a covid-19”, diz, também citada no documento a que a Lusa tece acesso, o secretário-geral interino da EPHA, Sasha Marschang.
O responsável acrescenta que milhões de veículos continuaram a poluir as cidades mesmo depois do escândalo dieselgate (envolvendo técnicas fraudulentas na contagem das emissões poluentes da Volkswagen), e que “os carros e as cidades precisam de se limpar”.
As imagens de satélite (ESA Sentinel-5) combinam leituras de emissões de dióxido de nitrogénio de 05 a 25 de março de 2019 e imagens para o mesmo período deste ano. Em todos os casos, como por exemplo em Lisboa e no Porto, a poluição é substancialmente menor este ano.
Além das duas cidades portuguesas as imagens agora disponibilizadas mostram o decréscimo de poluição em diversas cidades e países do mundo.
A Agência Europeia do Ambiente (AEA) considera a poluição do ar o maior risco ambiental para a Europa, especialmente nas grandes cidades. Partículas finas, dióxido de nitrogénio e ozono ao nível do solo levam a cerca de 400.000 mortes prematuras em cada ano.
Desde o início do século que houve um aumento acentuado de veículos a diesel na Europa, muitos deles a não cumprir os padrões europeus de poluição do ar, diz-se no documento, no qual se acrescenta que há 71 processos de infração contra países da União Europeia por falhas na qualidade do ar.
A EPHA é uma associação europeia sem fins lucrativos sedeada na Bélgica e representada em 21 países, reunindo organizações não governamentais europeias de saúde pública.
A pandemia do novo coronavírus matou pelo menos 33.244 pessoas no mundo inteiro desde que a doença surgiu em dezembro na China, segundo um balanço da AFP às 19:00 de domingo, a partir de dados oficiais, que dá conta de 697.750 casos em todo o mundo.
Portugal registava no domingo 119 mortes associadas à covid-19, mais 19 do que no sábado, enquanto o número de infetados subia 792 para 5.962.