SAÚDE QUE SE VÊ

Recurso a urgências acontece por falta de alternativa nos centros de saúde

LUSA
25-09-2019 10:00h

Um terço dos portugueses que recorreu às urgências nos últimos dois anos dirigiu-se diretamente ao hospital porque os centros de saúde estariam fechados quando necessitaram, segundo um inquérito da Deco/Proteste.

Os resultados são hoje divulgados pela revista Teste Saúde, com base num inquérito a mais de 1.300 portugueses adultos realizado no final do ano passado, refletindo a utilização dos serviços nos dois últimos anos.

Os resultados mostram também que apenas 22% dos inquiridos que foram à urgência ligaram antes para a linha SNS24 (808 24 24 24), serviço que se apresenta como uma ferramenta para triagem, aconselhamento e encaminhamento na doença aguda não emergente.

Questionados sobre por que razão foram directamente para o hospital, quase metade dos inquiridos apresenta como motivo as “melhores condições para efectuar o tratamento”, enquanto em 33% dos casos indicam que “as urgências do centro de saúde estavam fechadas”.

Há ainda 29% dos inquiridos que consideram que os profissionais de saúde dos hospitais estão “mais habilitados a lidar com situações difíceis”. No conjunto das respostas, há 36% que referem que o seu centro de saúde “não tem consultas de urgência”. Entre as pessoas que indicam terem necessitado de uma urgência, 72% foi a um hospital público, 16% dirigiu-se a serviços privados e 12% a centros de saúde.

Os centros de saúde ou unidades de saúde familiares não têm unidades ou serviços de urgência, mas a generalidade apresenta um serviço para situações agudas em determinados horários do dia.

“Se quer reservar os hospitais para casos graves, o Ministério de Saúde, além de reforçar os cuidados de saúde primários, deve continuar a promover a linha SNS 24 como meio de triagem e encaminhamento”, refere a análise da Deco/Proteste.

Quanto à satisfação com as urgências do hospital público, a nota global dada é positiva — 6,4 numa escala de um a dez, com destaque para a competência dos profissionais de saúde (nota 7,4 para enfermeiros e 7 para médicos). Já o tempo de espera por resultados de exames tem nota negativa (4,7), e o tempo de espera até observação médica recebeu uma classificação média de 5,2 em dez pontos.

Em termos de triagem, mais de metade dos inquiridos que foram à urgência receberam pulseira amarela e 26% pulseira verde. As pulseiras laranja e vermelha foram atribuídas, respectivamente, a 13% e 2% dos inquiridos neste estudo.

Os dados oficiais mostram que cerca de 40% dos atendimentos em urgência nos hospitais públicos no ano passado foram considerados pouco ou nada urgentes, representando mais de dois milhões de casos.

Os números do primeiro semestre deste ano confirmam a mesma tendência, segundo uma análise feita pela agência Lusa aos dados disponibilizados no portal da Transparência do SNS. Só entre Janeiro e Junho deste ano houve quase 1,1 milhões de episódios de urgência nos hospitais do SNS considerados pouco ou nada urgentes, a utentes a quem foram atribuídas pulseiras amarelas ou verdes na triagem de Manchester. A atribuição do verde e do azul como prioridade clínica significa que os utentes poderiam ser encaminhados para outros serviços de saúde, como os cuidados primários.

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