O Presidente da República assumiu-se hoje como "primeiro responsável" por zelar pela verdade das informações divulgadas durante o surto da covid-19 em Portugal e defendeu que é preciso esclarecimento permanente face a dúvidas e rumores.
Em declarações aos jornalistas, no Palácio de Belém, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que "tem de haver verdade", porque "para ser possível ganhar uma guerra, naturalmente, aqueles que estão a lutar nessa guerra têm de saber exatamente qual é a situação em cada momento, no que há de bom e no que há de mau".
"E eu disse isso no início e vai ter de ser assim até ao fim da guerra. Vai ter de ser. Se quiserem, eu assumo, como disse na declaração, a responsabilidade primeira de ser o primeiro responsável por estar atento a que também a verdade seja uma característica deste combate coletivo", acrescentou o chefe de Estado.
O Presidente da República advertiu para o "fator de cansaço" provocado pelo tempo que se levará a atingir o pico da curva epidémica em Portugal, referindo que poderá acontecer apenas em maio, pelo continuado crescimento do número de casos até lá e pela convivência com "um tema único".
Considerando que nestas situações é normal surgir "um conjunto de dúvidas e interrogações e o questionar a verdade das informações", reforçou: "Aquilo que eu posso garantir é que, naquilo que depende de mim e que depende de todas as autoridades com as quais eu estou em contacto perante - o senhor primeiro-ministro, a senhora ministra da Saúde, a senhora diretora-geral da Saúde - tudo certamente será feito para que aquilo que é transmitido aos portugueses seja verdadeiro".
Respondendo à dúvida sobre se "não há mais contaminados do que aqueles que são ali declarados", Marcelo Rebelo de Sousa assinalou que os casos contabilizados "são aqueles que são atestados".
"Eu não diria o que disse a senhora Merkel, que na sociedade alemã acabaria por haver 70% de contaminados. Hoje governantes britânicos disseram que metade da população britânica será contaminada. Numa epidemia, às tantas, ao fim de muito tempo, há uma percentagem da população que conviveu com o vírus, resistiu com as suas imunidades naturais, nem soube que teve esse contacto", prosseguiu.
Segundo o chefe de Estado, "há de haver a oportunidade de verificar mais tarde, com outro tipo de testes, que são testes retirando sangue, que houve muita gente que, como acontece, por exemplo, numa gripe ou noutro tipo de epidemias menos graves, conviveu com a realidade num período limitado de tempo, ficou imunizado e não mais pode contaminar ninguém".
O Presidente da República falava aos jornalistas após ter recebido dirigentes da União das Misericórdias Portuguesas (UMP) e da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS).
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou perto de 450 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 20 mil morreram.
Em Portugal, há 43 mortes e 2.995 infeções confirmadas, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde.