A pandemia da covid-19 “ameaça toda a humanidade”, afirmou hoje o secretário-geral da ONU, António Guterres, ao lançar o “Plano de Resposta Humanitária Mundial”, que se estende até dezembro.
Guterres fez ao mesmo tempo um pedido de doações de dois mil milhões de dólares (1,8 mil milhões de euros).
O objetivo do plano “é permitir combater o vírus nos países mais pobres do mundo e responder às necessidades das pessoas mais vulneráveis, nomeadamente as mulheres e as crianças, os idosos, os deficientes e os doentes crónicos”, precisou o dirigente das Nações Unidas numa declaração vídeo.
Face a esta ameaça, “o conjunto da humanidade deve ripostar. Uma ação e uma solidariedade mundiais são cruciais”, adiantou.
“As respostas individuais dos países não serão suficientes”, assinalou o antigo primeiro-ministro português, que na semana passada evocou a perspetiva de “milhões” de mortes por falta de solidariedade.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou perto de 428 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 19.000.
A covid-19 já começou a afetar países em crise humanitária devido a guerras, desastres naturais ou alterações climáticas.
“Não podemos perder os ganhos obtidos com investimentos em ações humanitárias e nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, insistiu António Guterres.
O apelo a doações lançado pela ONU – modesto tendo em conta os dois biliões de dólares desbloqueados por Washington para a economia norte-americana -, visa cobrir o período entre abril e dezembro de 2020, sugerindo uma crise mais longa.
O valor total integra os apelos a doações já feitos por várias agências da ONU (Organização Mundial de Saúde, Programa Alimentar Mundial, Alto Comissariado para os Refugiados, Fundo para a Infância…).
A OMS deve beneficiar de 450 milhões de dólares (416 milhões de euros), a UNICEF de 405 (374,7) e o PAM de 350 milhões de dólares (323,8 milhões de euros).
António Guterres pediu ainda que continuem a ser feitas as contribuições dos 193 membros da ONU para a ajuda humanitária já dada, que beneficia anualmente 100 milhões de pessoas em todo o mundo. Sem isso, a pandemia pode levar a outras pandemias (cólera, sarampo, etc), alerta a organização.
Detalhado num documento de 80 páginas, o plano humanitário será aplicado pelas diferentes agências da ONU, com um “papel direto” das organizações não-governamentais. É coordenado pelo secretário-geral adjunto das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários, Mark Lowcock.
Os fundos permitirão comprar equipamento médico para testar e tratar os doentes, instalar locais de lavagens de mãos nos campos de refugiados, lançar campanhas de informação e estabelecer pontes aéreas com África, Ásia e América Latina, precisou a ONU.
As necessidades precisas de vários países estão ainda a ser determinadas. O documento refere em particular duas dezenas de países prioritários para receberem ajuda, entre os quais vários com conflitos armados – Afeganistão, Líbia, Síria, República Centro Africana, Sudão do Sul, Iémen, Venezuela, Ucrânia -, mas também outros Estados como o Irão ou a Coreia do Norte são analisados.
Embora observe que é difícil fazer previsões sobre a evolução da pandemia, a ONU coloca dois cenários.
O primeiro é de um controlo rápido da doença, com uma desaceleração da sua progressão em “três a quatro meses”, permitindo “uma recuperação relativamente rápida” quer ao nível de saúde pública quer da situação económica.
O segundo cenário inclui uma “progressão rápida da pandemia nos países frágeis e em desenvolvimento”, nomeadamente em África, na Ásia e em algumas partes do continente americano. Isto significa fronteiras fechadas durante mais tempo e a continuação de restrições à liberdade de movimentos, “contribuindo ainda mais para uma desaceleração mundial que já está em curso”.