A bastonária dos Enfermeiros disse hoje que “ficava bem” ao primeiro-ministro e à ministra da Saúde pedirem desculpa aos enfermeiros e a si pelas insinuações de que teria desviado verbas da ordem para o ‘crowdfunding’ da greve cirúrgica.
Ana Rita Cavaco reagia desta forma ao resultado da ação da inspeção da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) a quatro plataformas eletrónicas de financiamento colaborativo (PPL, Novobancocrowdfunding, Boaboa e Crowdfunding) que estavam ativas no início do ano, entre as quais a que promoveu a campanha de recolha de fundos promovida pelos enfermeiros.
Na sequência da inspeção, a ASAE não encontrou ilícitos na campanha promovidas pelos enfermeiros, através da PPL para financiar duas greves nos blocos operatórios, que decorreram entre 22 de novembro e 31 de dezembro de 2018 e em fevereiro deste ano. No total, os enfermeiros angariaram mais de 720 mil euros.
A primeira reação de Ana Rita Cavaco foi publicada na sua página de Facebook, na qual afirma que durante meses foi acusada de desviar dinheiro da OE [Ordem dos Enfermeiros] para o `crowdfunding` da greve cirúrgica".
"A intervenção da ASAE, a todas as estruturas do género a funcionar em Portugal, coincidiu com as suspeitas do Governo sobre a origem dos donativos, num total de 780 mil euros, para apoiar os enfermeiros ausentes dos blocos operatórios. À data, chegou a ser levantada a hipótese de grande parte do fundo solidário ter sido transferida pela própria Ordem dos Enfermeiros, já que a bastonária, Ana Rita Cavaco, disse publicamente ter contribuído para a greve a título pessoal", afirma no Facebook.
Em declarações à agência Lusa, a bastonária afirmou que os enfermeiros estão "felizes" porque a conclusão da investigação revela aquilo que disseram sempre, mas também estão "muito revoltados" porque isso serviu para o primeiro-ministro "atacar violentamente os enfermeiros e a Ordem dos Enfermeiros com insinuações de que a sua bastonária teria desviado dinheiro da ordem para o `crowdfunding` da greve cirúrgica".
"A ASAE, que é uma instituição independente do Governo e da ministra da Saúde, vem agora dizer que isso não aconteceu preto no branco", disse Ana Rita Cavaco.
Portanto, frisou, "eu acho que ficava bem, não só ao senhor primeiro-ministro, mas também à ministra da Saúde fazerem um pedido desculpa aos enfermeiros e nomeadamente a mim que durante meses fui acusada de ter desviado dinheiro da ordem para o `crowdfunding` e inclusive isso ter servido para o início de uma sindicância com todos os contornos que se seguiram".
A bastonária da OE defendeu ainda que "os políticos e quem faz política" têm de o fazer de "uma forma séria e de uma forma verdadeira".
"Temos que nos deixar no país de, cada vez que não gostamos de alguém ou de uma instituição ou da pessoa que a representa e daquilo que essa pessoa diz em nome da sua classe, de um grupo profissional ou de um grupo da sociedade, lançar a mão destes expedientes persecutórios e destas mentiras porque comprova-se hoje que o senhor primeiro-ministro quando disse que havia essa suspeita está a governar o país com o recurso à boataria e isso não pode acontecer naquilo que é um dirigentes máximo de um Governo", sublinhou Ana Rita Cavaco.
A ASAE adiantou que, nas plataformas fiscalizadas, foram selecionadas e examinadas oito campanhas "de maior relevo" em termos de "montantes angariados (ou a angariar) e de número de campanhas propostas por beneficiário em cada uma das plataformas".
A inspeção efetuada levou à abertura de um processo de contraordenação relativo a uma campanha de apoio a uma organização de âmbito formativo e digital.
"Não foram detetados indícios da prática de quaisquer outros ilícitos contraordenacionais ou criminais nas restantes sete campanhas inspecionadas", acrescenta a ASAE.