As autoridades indianas estão a enfrentar dificuldades para conseguirem manter 1,3 mil milhões de pessoas em suas casas, como forma de combater a disseminação do novo coronavírus responsável pela pandemia da covid-19.
A garantia das autoridades de que os produtos essenciais não acabariam colidiu com o medo das pessoas de que o número de infetados pudesse piorar em breve e levou desde terça-feira ao açambarcamento de alimentos e outros produtos.
Outros desafiaram a ordem de confinamento não para fazer compras, mas para orar.
Em cinco dias, o número de casos confirmados da covid-19 saltou no país de cerca de 200 para 519 e especialistas dizem que o número real provavelmente será muito maior, nomeadamente devido à insuficiência de testes realizados.
Na terça-feira, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, anunciou um confinamento de três semanas em todo o país, cobrindo quase um quinto da população mundial, “para salvar a Índia e os indianos.
Modi disse que o confinamento seria “total”, mas as autoridades após o discurso divulgaram avisos explicando que os setores médico, forças de segurança, os medias, entre outros, poderiam continuar a funcionar.
Os comércios que vendem alimentos e outros itens essenciais permanecerão abertos.
Imagens de televisão de muitas cidades hoje mostraram mercados e escritórios fechados. As estações ferroviárias normalmente movimentadas estavam vazias.
Ainda assim, o discurso de Modi desencadeou pânico e levou à população às compras, levando lojas online, como a Amazon ou a Big Basket, a não aceitarem mais pedidos devido ao fluxo dos mesmos.
O distanciamento social foi esquecido numa mercearia no bairro de Nizamuddin, em Nova Deli, enquanto os moradores em pânico invadiam o interior da loja e lutavam entre si para conseguir produtos que desapareciam rapidamente.
Um casal de idosos que esperou para entrar na loja durante quase 30 minutos acabou por voltar para casa de mãos vazias.
Embora o confinamento preveja que as pessoas possam sair de suas casas para comprar comida, as notícias das televisões e as redes sociais mostraram polícias a agredir pessoas que se acumulam nas ruas para fazerem compras, no estado de Kerala, no sul do país, no centro financeiro de Mumbai e em Nova Deli.
Cenas semelhantes ocorreram no nordeste da Índia.
O porta-voz da polícia de Nova Deli, Anil Mittal, negou que a polícia estivesse a espancar pessoas.
Outros desafiaram a ordem de confinamento não para fazer compras, mas para orar.
Hoje foi o início do ano novo hindu, de acordo com um antigo calendário lunar, e o começo de um feriado de nove dias em que os hindus normalmente realizam rituais diários nos templos. A ordem de isolamento, no entanto, proíbe reuniões religiosas e instrui os locais de culto a fecharem.
Modi reconheceu numa mensagem no Twitter que “as celebrações não serão como são normalmente, mas fortalecerão a determinação de superar as circunstâncias”.
“Que todos possamos nos unir para vencer a importante batalha que o país enfrenta contra a covid-19”, declarou ainda Modi.
Alguns indianos, incluindo um membro do partido nacionalista hindu de Bharatiya Janata, de Modi, desafiaram a ordem de confinamento, que também proíbe reuniões públicas de cinco ou mais pessoas, e participaram nas cerimónias num templo.
Yogi Adityanath, o ministro-chefe do estado mais populoso da Índia, Uttar Pradesh, rezou diante de uma estátua de Lord Ram num templo improvisado em Ayodhya com cerca de 100 outras pessoas.
Nos últimos dias, a Índia expandiu gradualmente os pedidos de isolamento em casa, proibiu voos internacionais e domésticos e suspendeu o serviço de passageiros no seu extenso sistema ferroviário até 31 de março.
Enquanto isso, ministério da Saúde recebeu do pessoal médico e das tripulações das companhias aéreas queixas de discriminação por parte de proprietários e vizinhos das suas habitações, com medo da transmissão do vírus.
O ministério pediu às autoridades policiais e municipais que tomassem medidas estritas contra os proprietários dos imóveis.