O jardim zoológico da cidade de Pequim e partes da Grande Muralha da China reabriram hoje aos visitantes, que devem fazer reserva com antecedência, à medida que a capital chinesa regressa gradualmente ao normal.
Vários locais turísticos permanecem encerrados, incluindo a Cidade Proibida, o ex-líbris de Pequim, mas muitos residentes começam finalmente a sair de casa, seduzidos pela chegada da primavera e o desabrochar das flores de cerejeira, depois de dois meses em confinamento, devido ao surto do novo coronavírus.
"O mundo está mais limpo e há menos gente na rua", comentou à Lusa uma chinesa natural da província de Hunan, e que só recentemente voltou a sair à rua.
A desaceleração da atividade industrial melhorou os índices de qualidade do ar em Pequim, permitindo vislumbrar as montanhas circundantes, numa visão normalmente obstruída pelo manto de poluição que cobre a cidade.
O acesso a alguns locais continua a ser limitado, para evitar agrupamentos. Nos restaurantes, mede-se a temperatura corporal à entrada e preenche-se uma ficha com o nome e o número de telemóvel. Apenas se podem sentar dois clientes por mesa e cada mesa está separada por cerca de dois metros.
As autoridades apontam a necessidade de evitar infeções cruzadas, embora apontem que as restrições serão gradualmente reduzidas caso não haja uma ressurgência do surto.
As viagens para dentro e fora da cidade, que tem mais de 20 milhões de habitantes, continuam a ser rigidamente controladas. Quem entra na cidade é sujeito a testes laboratoriais e a um período de quarentena, de 14 dias, em instalações designadas pelas autoridades e que cobram até 100 euros por noite.
No entanto, os transportes públicos continuam a operar e muitos escritórios reabriram, embora o acesso aos edifícios esteja restrito aos funcionários das empresas e se faça desinfestação diária dos lugares comuns.
As medidas revelaram-se eficazes na contenção do surto, que começou em Wuhan, no centro do país, em dezembro passado, e se alastrou ao resto da China e além-fronteiras.
A Comissão de Saúde da China indicou ter registado, até à meia-noite na China (16:00 de terça-feira em Lisboa), mais quatro mortos pela Covid-19, o que fixa o número de vítimas mortais em 3.281.
Ao longo de mais de uma semana, a maioria dos casos identificados pelas autoridades chinesas são de pessoas chegadas do exterior, numa altura em que a transmissão comunitária quase desapareceu, segundo as autoridades chinesas.
As escolas, incluindo as universidades, permanecem encerradas, e as autoridades ainda não apontaram uma data para o regresso às salas de aula.
O Governo chinês diz que as obras públicas foram reiniciadas em cerca de 90% dos principais projetos de construção em todo o país, excluindo na província de Hubei, onde o vírus foi detetado pela primeira vez, em dezembro passado.
Embora muitos trabalhadores migrantes continuem nas suas terras natais, devido a medidas de quarentena e restrições à circulação de pessoas, a produção industrial também foi retomada, inclusive no setor de fabrico de automóveis, que tem sede em Wuhan, a capital de Hubei e a cidade mais afetada pela epidemia, e em empresas cruciais no fornecimento de componentes a nível mundial.
Falta saber se as autoridades chinesas vão de facto pôr fim a mercados de animais exóticos.
Logo após o início do surto, em janeiro passado, a comunidade científica chinesa foi consensual em apontar o comércio de animais exóticos, em particular morcegos ou pangolins, pela epidemia do novo coronavírus, à semelhança do que aconteceu em 2003, com a crise da pneumonia atípica.
A própria Assembleia Nacional Popular, o órgão máximo legislativo da China, proibiu, em fevereiro passado, o comércio de fauna silvestre e a eliminação do consumo de animais selvagens.
No entanto, a indústria parece beneficiar de forte proteção governamental. Logo após o surto de pneumonia atípica, foram tomadas medidas semelhantes, mas que acabaram por ter pouco efeito, com o comércio de animais exóticos a florescer nos últimos anos.