O Ministério da Educação timorense disse hoje que está a acompanhar “com seriedade” a segurança pessoal dos professores portugueses no país, repudiando qualquer ato ou ameaça de violência contra qualquer pessoa, independentemente da sua nacionalidade.
“O Governo tem conhecimento da existência de ameaças e de expressão de sentimentos de hostilidade recentes contra os professores portugueses em Baucau por parte de um setor da comunidade daquele município quando do registo de suspeitas de casos de covid-19 no país”, refere um comunicado enviado à Lusa.
“O Ministério da Educação, Juventude e Desporto (MEJD) repudia qualquer ato de violência ou ameaça de violência contra qualquer indivíduo, independentemente da sua nacionalidade, e nomeadamente repudia os atos contra os professores portugueses, que são convidados do povo timorense para contribuírem para a melhoria da educação em Timor-Leste”, disse.
Na terça-feira duas professoras portuguesas destacadas em Timor-Leste fizeram participações na Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL) de incidentes que ocorreram no final da semana a bordo de um transporte público em Baucau, segunda cidade do país.
Na participação, as docentes explicam que estavam a viajar numa 'microlete', o transporte público mais usado em Timor-Leste, quando um jovem agarrou uma das professoras e gritou a palavra “corona”, antes de saltar da viatura e fugir.
O ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, disse hoje que é preciso avaliar “com cuidado” se “há algum fundamento” na ideia de que os portugueses estão inseguros em Timor-Leste por estarem a ser associados à disseminação do novo coronavírus.
“A circulação da ideia de que hoje os portugueses não estão seguros em Timor-Leste porque os timorenses os estariam a acusar de serem os causadores da epidemia covid-19 teria efeitos devastadores. Por isso é preciso ver com cuidado se tem algum fundamento”, disse Santos Silva.
O Ministério da Educação timorense considera que os incidentes “representam casos isolados no país” e que “a situação de segurança é estável e calma, tendo sido registados alguns incidentes pontuais”, referindo que as forças de segurança estão em pleno funcionamento e a atuar dentro da lei.
O comunicado destaca o facto de o “trabalho árduo e a dedicação dos professores, nacionais e estrangeiros” serem fortemente reconhecidos pela comunidade educativa, em todo o país”.
Dulce Soares, ministra da tutela, mostra-se “confiante de que, com base nos laços históricos específicos com Portugal e os seus cidadãos, estes sentimentos de reconhecimento e de gratidão se irão manter durante os desafios encarados na luta contra a covid-19”.
O comunicado refere-se a uma “reação natural a expressão de um certo pânico por parte da população” depois do registo do primeiro caso de covid-19 em Timor-Leste e “reconhece o sentimento de medo e insegurança por parte dos cooperantes alvos de ameaças e hostilidades”.
Ainda assim, sublinha, “há um real e concreto esforço para a manutenção da segurança de todos, inclusive dos estrangeiros que se encontram no país”.
Nesse sentido o Ministério explica que tem atuado para promover a solidariedade entre a comunidade local e internacional e que vai reforçar a já “estreita” cooperação com a Embaixada de Portugal.
Tendo em conta a decisão de interrupção letiva, o Ministério explica que “espera contar com o envolvimento continuado de um número de professores portugueses para assegurar o ensino às crianças e jovens timorenses”.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 400 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram cerca de 18.000.
Timor-Leste tem até ao momento um caso registado de Covid-19.