O tratamento médico de utentes em cuidados continuados e o seu transporte a hospitais está a ser posto em causa por receios de contágio de covid-19, denunciou a associação do setor que criticou também a insuficiência do financiamento.
Num comunicado enviado hoje, a Associação Nacional de Cuidados Continuados (ANCC) anexa um email enviado no dia 18 de março à ministra da Saúde e à ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social a expor constrangimentos destas unidades e os riscos de admitir doentes enviados por hospitais e de manter transportes entre unidades hospitalares e unidades de cuidados continuados para tratamentos.
O isolamento de doentes de covid-19 e de casos suspeitos nas unidades da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados “de nada serve” se os doentes tiverem que continuar a sair para tratamentos hospitalares.
“Se se pretende evitar a propagação do vírus ao máximo, então é completamente errado enviar doentes de hospitais para as UCCI) [unidades de cuidados continuados integrados] (ou para outro lado qualquer) sem o devido teste, bem como enviar doentes a necessitar de hemodiálise (ou outra situação semelhante) em que implica diversas saídas e entradas de doentes nas UCCI, aumentando exponencialmente o risco de contágio. A isto acresce que, no caso de uma das nossas associadas, está a lidar com situações em que os bombeiros recusam fazer o transporte e a clínica de hemodiálise recusa receber o doente”, lê-se no email enviado ao Governo, assinado pelo presidente da ANCC, José Bourdain.
“Acresce que as UCCI não têm as condições que têm os hospitais, pois não foram concebidas para tal, nomeadamente espaços físicos e pessoal com formação específica além de que neste momento não têm nem conseguem aceder a determinado equipamento de proteção individual (EPI), nomeadamente máscaras cirúrgicas”, acrescentava a missiva, que apelava à entrega de máscaras a estas unidades.
Recuperando críticas já feitas no início do ano ao financiamento às unidades de cuidados continuados por utente e por tipologia de internamento, a ANCC volta a sublinhar que as comparticipações do Estado não são suficientes para cobrir aumentos de despesas como o aumento do salário mínimo e considera que o aumento de financiamento de cerca de 50 milhões de euros para o setor social é “uma aspirina” que contém em si “a vergonha” de não abrangerem os cuidados continuados.
As contas apresentadas pela associação em janeiro, quando foi publicada a portaria de atualização das comparticipações do Estado, revelavam défices mensais de milhares de euros entre a despesa das unidades e os apoios do Estado.
Na mesma altura alertaram para o perigo de encerramento destas unidades, por “manifesta inviabilidade de funcionamento e acumular de prejuízos e dívidas”.
“O encerramento de várias Unidades de Cuidados Continuados levará ao colapso do que ainda resta do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Temos alertado o Governo e a Assembleia da República para tal situação, mas o Governo ilude-se que esta situação se pode manter”, alertava a ANCC na altura.
Em Portugal, há 33 mortes, mais 10 do que na véspera, e 2.362 infeções confirmadas, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, que regista mais 302 casos do que na segunda-feira.
Dos infetados, 203 estão internados, 48 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 22 doentes que já recuperaram.
Portugal encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de quinta-feira e até às 23:59 de 02 de abril.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 386 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram cerca de 17.000.