Em tempos de pandemia, o parlamento manteve hoje a tradição de realizar o debate quinzenal com o primeiro-ministro, mas, à parte a rotina das intervenções, tudo mudou, numa Assembleia com menos deputados, menos funcionários e até menos jornalistas.
Habitualmente, os dias de debates quinzenais significam 'casa cheia' na Assembleia da República, quer no plenário, quer nos corredores, onde aumenta a azáfama da comunicação social.
No último debate com António Costa no parlamento, em 04 de março, o Governo já escolheu como tema "a prevenção e contenção da epidemia Covid-19", mas, numa altura em que existiam apenas cinco casos confirmados de infeção em Portugal, os partidos não deixaram de 'desviar' a discussão para outros temas, como o aeroporto do Montijo.
Três semanas depois, e com 30 mortos em Portugal e 2.362 infetados, tudo mudou: o país entrou em estado de emergência na passada quinta-feira, com restrições à circulação e ao funcionamento das lojas, e o parlamento também alterou radicalmente a forma de funcionar, com menos debates, menos pessoas em plenário e menos funcionários.
Perto das 15:00, o silêncio era a regra nos corredores da Assembleia, onde os deputados só começaram a chegar em cima da hora do debate, e os acenos de cabeça e os 'toques' de cotovelo substituíram os costumeiros beijinhos e passou-bem.
Hoje, dia sem votações, ao plenário bastava ter o quórum mínimo de funcionamento, 46 deputados (um quinto do total), mas no arranque da discussão estavam perto de 70 parlamentares na sala.
Muitos entravam no plenário a esfregarem as mãos com gel desinfetante - são muitos os dispensadores nos corredores do parlamento há várias semanas -, um ou outro com luvas mas nenhum com máscara, e tentavam escolher lugares com algum distanciamento.
Depois de terem sido suspensas as visitas externas de grupos organizados, só fotojornalistas e repórteres de imagem marcavam presença nas galerias.
A bancada do Governo respeitou igualmente a distância aconselhada em tempos de pandemia de covid-19: além do primeiro-ministro, António Costa, estiveram presentes, com uma cadeira de intervalo entre si, os ministros da saúde, da Economia e do Trabalho e os secretários de Estado dos Assuntos Parlamentares e da Presidência do Conselho de Ministros.
Também a bancada de imprensa, habitualmente a abarrotar em dias de debates ?quentes', está hoje reduzida a cerca de uma dezena jornalistas, e respeitando as novas regras de distanciamento social.
Fora do plenário, as mudanças começam logo no parque de estacionamento da Assembleia da República, que, em dia de debate quinzenal, fica com a lotação esgotada horas antes do arranque.
Hoje, eram muitos os lugares no piso reservado aos deputados e um dos dois pisos destinado a funcionários e jornalistas estava praticamente deserto.
Os bares e a cantina do do parlamento mantêm-se em funcionamento, mas como menos mesas para respeitar a distância social, e os elevadores têm avisos de lotação máxima.
De portas fechadas está a biblioteca da Assembleia da República, devido às medidas restritivas que foram sendo gradualmente adotadas pela Assembleia da República, onde não se registou até agora qualquer caso confirmado, de acordo com informação oficial de segunda-feira.