Parte dos portugueses no Luxemburgo está mais preocupada com o impacto económico da pandemia do Covid-19, nomeadamente no emprego, do que com os riscos que representa num país de passagem na Europa.
Para José Trindade, responsável do Centro de Apoio Social e Associativo (CASA) para a comunidade imigrante, grande parte dos portugueses que “estão cá a receber o salário mínimo nacional, e ainda são uma boa parte da comunidade, estão mais preocupados com o emprego, do que com os riscos do vírus", que está a provocar a pandemia.
O fundador da CASA, uma das mais antigas instituições de solidariedade de apoio aos portugueses no Luxemburgo, que celebra este ano 40 anos, agora com portas abertas a imigrantes de outras nacionalidades naquele país, sublinhou que já recebeu mais de 200 solicitações de portugueses a pedirem apoio, alguns para regressarem a Portugal, desde que o governo luxemburguês declarou o estado de emergência, impondo o encerramento de cafés, restaurantes, empresas, incluindo as de construção.
"Nós estamos a aconselhar calma, embora não seja fácil as pessoas a terem quando se trata de famílias numerosas ou de pessoas que estão aqui sós e recebem o salário mínimo nacional, ao qual descontam, o aluguer [renda da casa], normalmente elevado, mais a fatura do aquecimento e a alimentação e com pouco ficam todos os meses", relatou.
Porém, "o Estado não fica a dever nada a ninguém e tudo será feito pelas instituições para que ninguém morra à fome", considerou, adiantando que é isso mesmo que diz aos seus compatriotas naquela situação.
“É preciso é que quem está a passar dificuldades as divulgue e não fique fechado em casa a evitar divulgá-las", que as "recompensas" só virão depois.
Um conselho bem diferente está a dar aos que nesta altura do ano procuram o Luxemburgo para trabalhar, porque está a passar o inverno e há mais oportunidades de emprego.
Assim como a "outros que estão a trabalhar, através de empresas de trabalho temporário, que fecharam", após as medidas tomadas pelo governo luxemburguês de combate à pandemia.
A estes "aconselhamos que regressem a Portugal", concluiu o antigo controlador de tráfego aéreo no aeroporto do país, agora reformado e dedicado à instituição que fundou.
Contudo, a CASA, que dava formação a 1437 pessoas, cursos de línguas, de costura, pintura e música, para ajudar à integração dos imigrantes no país, e trabalho a 43 pessoas, também teve de fechar as portas.
"É muito triste", afirmou o português, que é também o vice-presidente da Comissão de Estrangeiros da cidade do Luxemburgo e foi conselheiro das Comunidades Portuguesas.
Eduardo Silva, também antigo conselheiro das Comunidades Portuguesas e sindicalista da federação sindical OGBL partilha da opinião de José Trindade.
Para o sindicalista, desde que os números de infetados e mortes pelo Covid-19 subiram no país e as medidas do governo luxemburguês de combate à pandemia apertaram os "portugueses começaram a ter mais consciência dos perigos".
Ainda assim, as preocupações económicas continuam a superar as dos riscos que correm num país como o Luxemburgo, por isso a circulação só reduziu quando as empresas foram obrigadas a fechar "e as multas entraram em vigor", relatou à Lusa.
Agora, "não vale a pena remar contra a maré", lembrou. A situação de combate à pandemia é geral, não é só do Luxemburgo e está numa fase que obriga ao fecho de quase tudo, sublinhou.
"Os que estão em casa sem trabalhar, porque as empresas fecharam estão em desemprego técnico", tendo direito a receber 80% do seu salário. E os sindicatos estão a tentar que o Governo pague os 100% do ordenado mensal a estes trabalhadores, referiu.
Porém, a situação também não tem sido fácil de entender para os portugueses quem tem uma pequena empresa e foram obrigados a fechá-la, admitiu.
É o caso de Carlos Santos, 45 anos, e dono do café da Gare, na cidade do Luxemburgo.
"Estou preocupado, claro que estou, vou ter de despedir pessoal. Tinha sete e vou ficar com quatro. Isso já decidi. Vão para o subsídio de desemprego. E quando reabrir faço um horário mais reduzido do que o que fazia", afirmou quando contactado pela Lusa.
Até porque, "a economia vai baixar muito", considerou.
Até lá, vai tentar algumas das compensações que o Governo português promete para as empresas que têm de fechar.
Carlos Santos disse que receia os riscos que a família está a correr com a pandemia. Mas os impactos económicos preocupam-no "muito". Porque "há pessoas que vão para o desemprego e os alugueres de casas são muito caros no Luxemburgo".
"Podia continuar em horário reduzido, como já estava antes de mandarem fechar os cafés e com os funcionários de risco de baixa, como já estavam. Até porque a afluência de pessoas já não era a mesma", afirmou.
No Luxemburgo, país que continua a estar entre os principais destinos preferenciais dos emigrantes portugueses, viviam de acordo com o último Relatório da Emigração de 2019, mais de 116 mil portugueses em 2018, tendo por base os registos consulares.
José Trindade estima que neste momento vivem no país entre 120 a 122 mil portugueses.
Até ao momento, o Luxemburgo registou cerca de 900 infeções com Covid-19, que causaram oito mortes.