As visitas de familiares a reclusos terminaram há oito dias e os guardas prisionais temem que nos próximos dias possam aparecer casos de contágio pelo novo coronavírus entre funcionários e presos, alertando para a falta de material de proteção.
A afirmação é de Jorge Alves, presidente do Sindicato do Corpo da Guarda Prisional que diz que o medo se está a apoderar dos guardas e critica a “falta de estratégia da Direção-Geral e a divulgação de informação para as cadeias a conta gotas”, nomeadamente, numa necessária alteração dos horários para reduzir a circulação de guardas.
“Nas cadeias os guardas não têm meios de proteção individual contra o coronavírus e estão impedidos de usar equipamento próprio para não criar alarme social entre os reclusos determinou o diretor-geral dos Serviços Prisionais”, contou à Lusa.
Até ao momento, os reclusos mantêm as suas rotinas normais, vão ao ginásio, jogam à bola nos pátios das cadeias ou vão à biblioteca, apenas não têm aulas nem visitas.
A ministra da Justiça tinha referido no parlamento, no dia 10 de março, que estavam suspensas ou reduzidas as visitas em várias prisões, tendo-se compensado essas restrições com o aumento de telefonemas dos reclusos.
O presidente do sindicato afirma que houve cadeias cujas visitas terminaram na última segunda-feira e que, há cerca de uma semana e meia, em dois estabelecimentos prisionais, um na zona centro e outro na zona sul, "estiveram 70 pessoas numa sala sem distância de segurança".
Outra das críticas do sindicato prende-se com a criação de dois espaços – para reclusos e guardas - isolados e com circulação de ar para casos suspeitos. Porém, segundo o dirigente sindical, "muitas cadeias não têm condições para os criar".
“No EP Lisboa o local identificado para conter os reclusos, caso seja necessário, foi o refeitório da enfermaria e numa cadeia a norte o espaço destinado aos guardas é um quarto sem janela”, contou.
Outra das discordâncias do sindicato sobre as orientações para conter o contágio do coronavírus prende-se com a entrada de roupa nos estabelecimentos prisionais e que os guardas têm de revistar antes de ser entregue aos presos.
“As revistas em relação à roupa mantêm-se igual. As pessoas fazem fila à porta dos estabelecimentos, que não têm qualquer indicação à entrada sobre a distância de segurança, a roupa é entregue aos guardas em sacos de plástico e os têm de revistar”, referiu.
O dirigente sindical teme que comece a acontecer nas cadeias, onde há um ajuntamento de pessoas em espaços confinados, o que está a acontecer nos lares de idosos.
“Estamos muito receosos porque não se pode fechar uma cadeia. As medidas profiláticas de contenção tinham de ser mais exigentes e estrategicamente pensadas”, frisou Jorge Alves, adiantando que está a ser medida diariamente a temperatura aos reclusos, mas que os guardas entram e saem do espaço “sem qualquer controlo sanitário”.
As últimas estatísticas da direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais apontam para 11.863 pessoas detidas nas cadeias, a 15 de março.
A Lusa pediu esclarecimentos ao Ministério da Justiça sobre a situação nas cadeias devido à pandemia Covid-19 mas ainda não obteve resposta.
Portugal regista 23 mortes pela covid-19, mais nove do que no domingo, e 2.060 pessoas infetadas.
Estão confirmadas nove mortes na região Norte, cinco na região Centro, oito na região de Lisboa e Vale do Tejo e uma no Algarve, revela o boletim epidemiológico divulgado hoje, com dados referentes até às 24:00 de domingo.
Das 2.060 pessoas infetadas pelo novo coronavírus, 1.859 está a recuperar em casa, 201 estão internadas, 47 dos quais em Unidades de Cuidados Intensivos.