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Covid-19: Câmara de Azeméis acusada de “irresponsabilidade” por manter trabalho presencial

LUSA
23-03-2020 15:57h

O Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local (STAL) acusou hoje o executivo da Câmara de Oliveira de Azeméis de “irresponsabilidade” por “obrigar” os funcionários a laborarem presencialmente, quando o estado de emergência incentiva o teletrabalho sempre que possível.

António Augusto Pires, coordenador no distrito de Aveiro do STAL, disse à Lusa que isso "é uma irresponsabilidade" e criticou ainda a alteração de horários a que a autarquia socialista procedeu já em período de pandemia, classificando-a de "uma ilegalidade".

"O presidente da Câmara de Oliveira de Azeméis não tem um plano de contingência em condições, limitou-se a emitir um comunicado que está na internet e não deixa ninguém ir para casa a não ser que tenha os filhos sozinhos, sem acompanhamento. Nem sequer responde aos requerimentos dos funcionários, que continuam a trabalhar todos ao molho e a andar nos carros municipais com quatro ou cinco pessoas lá dentro", realçou.

Para o dirigente do STAL, "se o presidente tivesse algum respeito pelas pessoas que lá trabalham, a atitude correta era enviar pelo menos 50% dos funcionários para casa, por 15 dias".

Contactada pela Lusa, a Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis, no distrito de Aveiro, não comentou o assunto.

O ex-vereador do PSD António Rosa, que em mandatos anteriores implementou na autarquia diferentes sistemas de gestão remota, também questionou a postura do executivo numa publicação na rede social Facebook, referindo que os funcionários da Câmara estão a ser "obrigados a fazer trabalho presencial".

O ex-autarca afirma que, para se evitar o risco de contágio da covid-19, a Câmara poderia recorrer a "soluções de gestão documental, ferramentas de ‘HomeOffice' disponíveis e gratuitas, sistemas de organização e certificação implementados" - em suma, "ferramentas que permitem um ajustamento mais suave às atuais circunstâncias, pelo menos por parte daqueles que não têm a responsabilidade de garantir serviços essenciais".

Nuno Pires é presidente do PSD local e também criticou a atuação do executivo PS: "Não compreendo porque é que grande parte dos colaboradores do município ainda está a trabalhar. Não faz sentido pedir às [outras] pessoas para ficarem em casa e depois obrigar os colaboradores [da Câmara] a trabalharem [presencialmente], muitos deles em espaços encerrados ao público ou em locais que são pequenos para várias pessoas".

Tanto esse responsável como António Pinto Moreira, presidente da concelhia do CDS-PP, abordam ainda o facto de o executivo PS revelar "descoordenação" no que se refere à Proteção Civil, "comunicando" decisões às autoridades em vez de as "consultar" antes de decidir.

"Isto é irracional. A Câmara não tem que informar as autoridades - a Câmara tem que fazer aquilo que é recomendado por quem sabe mais do que ela", defende.

No concelho, que conta já com 17 casos de Covid-19, outros residentes defendem que a situação é agravada pela contiguidade de Oliveira de Azeméis aos municípios de Santa Maria da Feira, onde já há 42 infetados entre cerca de 139.300 habitantes, e Ovar, onde foi declarado o estado de calamidade pública, imposta uma cerca sanitária com controlo de fronteiras e diagnosticados 74 doentes em aproximadamente 55.400 residentes.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, foi detetado em dezembro na China e já infetou mais de 341.000 pessoas em todo o mundo, das quais mais de 15.100 morreram.

Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde indicou hoje que o surto de covid-19 já provocou 23 mortes e 2.060 infetados. Nesse universo de doentes, 201 estão internados, 47 dos quais em cuidados intensivos.

Dada a evolução da pandemia, na terça-feira o Governo declarou o estado de calamidade pública no concelho de Ovar e, desde as 00:00 de quinta, todo o país se encontra em estado de emergência, o que vigorará até às 23:59 do dia 02 de abril.

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