As autoridades maltesas recusaram esta quarta-feira à noite reabastecer com combustível o navio humanitário das organizações não-governamentais (ONG) SOS Mediterrâneo e Médicos Sem Fronteiras (MSF), anunciou um dirigente da embarcação, em declarações à AFP, feitas a bordo.
“Depois de nos terem autorizado um abastecimento ao largo, sem acostagem, as autoridades maltesas anunciaram esta noite, cerca das 20h30 (19h30 de Lisboa), duas horas antes do encontro, que não tínhamos autorização para entrar nas águas territoriais maltesas”, declarou o responsável pelas operações de socorro a migrantes, Nicolas Romaniuk.
Esta foi a primeira vez que Malta fechou a sua zona territorial a uma embarcação humanitária, enquanto, por seu lado, a Itália já interditou por várias vezes as suas águas territoriais aos navios de ONG.
Romaniuk adiantou que Malta não avançou qualquer razão oficial ao capitão do barco.
“Mas o agente marítimo que se ocupa do nosso caso indicou-nos por ‘e-mail’ que não nos podíamos reabastecer, porque tinham sabido que se tratava do barco de uma ONG”, referiu.
Este navio, sucessor do “Aquarius”, fretado por aquelas ONG francesas, saiu domingo à noite de Marselha, no sul de França, e estava esta quarta-feira à noite a 18 horas de navegação da zona de socorro de migrantes, mas perdeu tempo ao desviar-se para Malta.
O coordenador do socorro estima que o carburante a bordo permite que o barco continue a navegar entre 10 a 12 dias, o que reduz o tempo útil de buscas no mar.
“Temos água, combustível. Há pessoas a socorrer, portanto continuamos”, decidiu. A meteorologia favorece as partidas da costa líbia e os guarda-costas líbios já intercetaram sete embarcações nas últimas 36 horas, detalhou.
Os candidatos à entrada na Europa receiam mais do que tudo serem reenviados para a Líbia, onde sofrem toda a espécie de abusos, violência e exploração.
O “Ocean Viking”, um navio de 69 metros com bandeira norueguesa, dirige-se para o Mediterrâneo Central, ao largo das costas líbias, para socorrer migrantes que recorrem a embarcações precárias.
Pretendia reabastecer-se em marcha, de maneira a prolongar a missão o mais possível na zona de busca e salvamento.
“Nós tínhamos considerado várias opções e optámos por Malta. Íamos fazer o abastecimento ao largo, através de um navio de reabastecimento, como se faz correntemente hoje em dia”, acrescentou.
As autoridades maltesas “tinham solicitado a lista das pessoas a bordo e detalhes sobre” o pedido, continuou.
“Comunicámos à rádio maltesa a nossa hora estimada de chegada cerca das 22:30 (21.30 de Lisboa). Cinco minutos depois anunciaram-nos que não tínhamos autorização para entrar em águas maltesas”, contou o dirigente da ONG.
O “Ocean Viking” está a fazer a sua primeira missão, com cerca de 30 pessoas a bordo, marinheiros salvadores da SOS Mediterrâneo e pessoal médico e de assistência da MSF.
Desde a sua partida que a tripulação e o pessoal humanitário se preparavam para deambular ao longo das costas, uma vez que não têm porto de acolhimento para os migrantes que socorrerem.
O Mediterrâneo, que representa um por cento dos oceanos do planeta, tornou-se, contudo, a rota marítima mais mortífera do mundo.
Segundo a Organização Internacional para as Migrações, já desapareceram 840 pessoas desde o início do ano nas suas águas, das quais 576 no Mediterrâneo Central, sem contar os naufrágios não relatados.