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Covid-19: Comunidade Hindu de Portugal assustada com impacto social e económico

LUSA
20-03-2020 21:25h

O presidente da Comunidade Hindu de Portugal (CHP), Kiritkumar Bachu, admitiu hoje recear pelo impacto social e económico da pandemia da covid-19 no país, quando já se registam mais de 1.000 casos de infeção e seis mortes.

“As pessoas estão confusas, não sabem o que fazer. Também estão muito assustadas pela parte económica e a Comunidade também está assustada. Nós temos 20 e tal empregados e não sabemos como vamos gerir no final do mês. A preocupação é a mesma para todos e isto é por tempo indeterminado, ninguém consegue prever quando é que isto vai terminar”, disso o líder da CHP.

Devido à propagação do novo coronavírus SARS-CoV-2, a direção da instituição, sediada em Telheiras, Lisboa, anunciou na segunda-feira o encerramento temporário das instalações, onde se incluem o templo, a cantina (habitualmente aberta ao público em geral), a secretaria e os espaços multiusos, onde são dadas aulas de dança ou ioga.

O fecho temporário foi também a única solução possível para os estabelecimentos comerciais de muitos membros da comunidade.

“É um grande desafio e muitos já começaram a fechar, não sabem como podem funcionar. No caso da Comunidade, há uma semana encerrámos completamente a cantina, em que também fazemos 'take-away', mas agora estamos a ver se devíamos novamente começar com 'take-away' só durante um período”, observou.

Com 10 a 12 mil membros referenciados, na maioria provenientes de Moçambique ou da Índia, a dimensão da comunidade hindu no país cresceu para cerca de 30.000 pessoas nos últimos anos, com vagas de imigração de países como Nepal ou Bangladesh.

Perante a suspensão do culto para o público, o templo Radha Krishna virou-se para a comunicação ‘online’, com a transmissão das duas cerimónias ‘Aarti’ feitas diariamente à porta fechada.

“Temos um sacerdote que mora mesmo ali na Comunidade e, com outra pessoa, vai lá fazer cânticos religiosos às 08:30 e 20:00. Depois, pomos no Youtube e no Facebook, e à noite tentamos fazer essa transmissão”, contou Kiritkumar Bachu, assumindo ter sido “muito difícil” tomar a decisão de encerrar portas pela primeira vez desde a inauguração do espaço, em 1998.

Sublinhando que o “hinduísmo não é uma religião, é um modo de viver”, o presidente da CHP defendeu que as famílias se unam e, nesse sentido, a Comunidade agendou para este sábado (21:00) uma oração em cadeia, com o cântico Hanuman Chalisa – um poema de 40 versos muito popular entre os hindus - a ser transmitido ‘online’ nas redes sociais da organização.

“Temos muitos mantras e alguns são próprios para combater doenças e ajudar na saúde. As pessoas juntam-se em casa, em família, e cantam esses mantras juntos. Há uma frase no hinduísmo que diz ‘Todo o universo é uma família’. Isto está escrito nas paredes da Comunidade. Hoje estamos a notar isso, não é só um tipo de religião ou de classe que está a sofrer. Temos de ter cautela para não ficarmos doentes ou contaminarmos outras pessoas”, vincou.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, infetou mais de 265 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 11.100 morreram.

Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde elevou hoje o número de casos confirmados de infeção para 1.020, mais 235 do que na quinta-feira. O número de mortos no país subiu para seis.

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