O economista guineense Santos Fernandes disse hoje que as medidas tomadas pelas autoridades para prevenir a Covid-19 vão ter um impacto económico na vida das populações e na campanha de caju, principal produto de exportação da Guiné-Bissau.
"As medidas tomadas são bem-vindas, mas foram um pouco precipitadas, porque antes de serem tomadas o Governo deveria ter criado condições mínimas para salvaguardar os interesses básicos das populações", afirmou Santos Fernandes à Lusa.
Segundo o economista, as medidas vão ter impacto a nível da inflação, porque o "índice de preços ao consumidor poderá sofrer".
"Não havendo abastecimento de produtos de bens essenciais de primeira necessidade, o mercado não vai ter produtos para oferecer, o que vai provocar especulação dos preços", disse.
Para Santos Fernandes, as autoridades da Guiné-Bissau deveriam primeiro ter um estoque de produtos de primeira necessidade e depois incentivar os importadores com benefícios fiscais.
"No ciclo económico temos a figura dos três agentes económicos, as famílias, as empresas e o próprio Governo. Estas medidas vão ter impacto sobre a vida das famílias, se os consumidores não conseguirem comprar, porque não há o produto no mercado, as empresas vão sentir e não vão cumprir com as suas obrigações fiscais e o ciclo económico fica comprometido", explicou.
Na opinião do economista, a campanha de caju, principal produto de exportação da Guiné-Bissau e da qual depende direta e indiretamente 80% da população do país, também vai ser afetada.
"Os tradicionais compradores da nossa castanha são originários da Ásia e essas pessoas terão outras prioridades. Muitos deles poderão não participar", disse, sublinhando que se espera uma situação económica difícil para o país, tendo em conta o próprio contexto mundial.
"O preço já não é favorável a Costa do Marfim começou com 400 francos cfa (cerca de 0,60 cêntimos de euro) o quilo e tudo indica que vamos ter problemas", afirmou.
A Guiné-Bissau ainda não registou qualquer caso de Covid-19, mas dadas as fragilidades sanitárias do país, as autoridades decidiram pelo encerramento de fronteiras, com exceção para abastecimento de produtos de primeira necessidade e urgências médicas.
As autoridades encerram também escolas públicas e privadas, mercados nacionais e todo o comércio, que não forneça bens de primeira necessidade.
Foi também decidido encerrar locais de culto, nomeadamente à sexta-feira, sábado e domingo, piscinas, praias e complexos de lazer e desportivos.
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, o continente africano registava quinta-feira quatro mortos e 147 novos casos da Covid-19, elevando para 21 mortes e 801 o número de doentes em 36 países africanos.
A Guiné-Bissau mantém-se sem casos oficialmente confirmados, mas os países vizinhos como o Senegal e a Guiné-Conacri tem registos de Covid-19.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da Covid-19, já matou 10.080 pessoas, a maioria na Europa (4.932) e Ásia (3.431), segundo o último balanço.
Com 3.405 mortes, a Itália é o país mais afetado, à frente da China (3.248), o centro inicial de contágio, e do Irão (1.433).