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Covid-19: Prática dos testes de despistagem tem características diferentes na Europa

19-03-2020 18:02h

Obrigatórios ou facultativos, dirigidos somente a um setor da população ou prestes a serem alargados a um número cada vez maior de pessoas, os testes de despistagem da Covid-19 em Espanha, Alemanha, França e Reino Unido tornaram-se imprescindíveis.

Em Espanha é extremamente difícil conhecer os números exatos de pessoas infetadas com o novo coronavírus porque desde que a transmissão do vírus na União Europeia ficou fora de controlo, na semana passada, foram realizados testes no país quase exclusivamente a doentes graves e pessoas vulneráveis com sintomas respiratórios.

Esta situação está em vias de se alterar, com a Espanha a generalizar, nos próximos dias, a utilização de testes de diagnóstico “rápido” para a deteção do Covid-19.

O diretor do Centro de Coordenação de Alertas e Emergências Sanitárias, Fernando Simón, revelou na quarta-feira que esses “testes rápidos” vão estar disponíveis "imediatamente".

"Vamos começar a fazer testes de diagnóstico da Covid-19 a todas as pessoas que tenham sintomas relacionados com o vírus", disse Simón, advertindo que esse método de deteção irá “aumentar substancialmente o número de casos positivos”.

O objetivo é que, com o novo teste, se chegue a uma população mais vasta, “tanto em grupos vulneráveis como àqueles que permanecem em casa com sintomas".

Entretanto, a Conferência de Reitores das Universidades Espanholas colocou à disposição das autoridades sanitárias mais de 200 laboratórios e 300 especialistas em testes Covid-19, assim como além de milhares de unidades de equipamento de proteção individual.

Isto incluiria um total de 1,7 milhões de luvas, 75.000 máscaras, 25.000 batas, 6.000 equipamentos de proteção pessoal e 2.300 óculos de proteção, bem como uma variedade de consumíveis para conter a propagação da pandemia.

Segundo uma nota de imprensa distribuída, as universidades espanholas respondem assim "em apenas 48 horas" ao apelo feito pelo Governo e pelas comunidades autónomas, tendo identificado 206 laboratórios e 307 investigadores com experiência na realização do teste de reação em cadeia da polimerase (PCR), que deteta o Covid-19.

Na Alemanha, as autoridades recomendam a realização de um teste apenas a quem apresentar sintomas e tenha estado em contacto com alguém infetado ou em alguma zona considerada de risco nos últimos 14 dias.

O Instituto alemão Robert Koch, centro governamental que faz a gestão epidemiológica, recomenda também que sejam testados pacientes que, além de tosse, febre e falta de ar, tenham doenças crónicas, pertençam ao grupo de risco ou sintam o agravamento de sintomas.

Para realizar o teste é preciso primeiro ligar para a respetiva clínica de saúde e falar com o médico de família. A outra alternativa é telefonar para o número de emergência criado para o efeito. Só depois é dada luz verde à análise.

O paciente é então reencaminhado para um centro de teste ou uma equipa é enviada ao domicílio. Há também os chamados testes ‘drive-through’ disponíveis em vários Estados federados. A prova é realizada no carro, o que reduz o risco de infeção. As cidades de Hannover e Duisburgo, por exemplo, já facilitam esta alternativa.

Existem também várias clínicas que criaram as suas próprias estações de teste, muitas fora das instalações de saúde. Só na Baixa Saxónia estima-se que existam mais de 30.

Para todas estas soluções, o Instituto Robert Koch avisa que é sempre necessária a autorização de um médico, isto é, os pacientes nunca devem deslocar-se às clínicas, estações ou hospitais voluntariamente.

No Reino Unido, os testes estão a ser feitos apenas a pacientes em tratamento nos hospitais, pelo que as pessoas com sintomas em auto-isolamento em casa não são testadas. 

As autoridades de saúde têm um problema de capacidade dos seus laboratórios, que aumentou de 1.500 testes diários para cerca de 5.000 esta semana. Na próxima semana esperam poder fazer 10.000 e dentro de quatro semanas 25.000 testes por dia.

Esta maior capacidade vai permitir iniciar a recolha de amostras em tendas colocadas no exterior dos hospitais, para poder estender os testes a pessoas com casos suspeitos. 

O consultor científico do governo, Patrick Vallance, disse que está a ser desenvolvido um teste para perceber se as pessoas desenvolveram anticorpos e imunidade ao vírus. 

Este teste vai ser “decisivo", disse, porque “vai permitir perceber a dimensão da população sem sintomas, quem teve esta doença mas não teve sintomas significativos”. 

Em França, apenas estão a ser testados os pacientes graves que são hospitalizados ou pessoas em situação muito frágil que apresentem sintomas graves. Esta despistagem, que difere de outros países europeus, foi posta em prática ainda antes de ser declarado o nível 3 de epidemia no país.

Assim, quando há suspeita de vírus, mas os sintomas não obrigam a uma hospitalização imediata e o paciente se cura em casa, não há qualquer teste e estas pessoas não entram para as estatísticas. Apenas as pessoas mais frágeis, como doentes crónicos ou pessoas com mais de 65 anos com outros problemas de saúde, são testadas para diagnóstico.

Jérôme Salomon, diretor-geral da Saúde em França, anunciou na quarta-feira que tinham sido feitos 4.200 testes num único dia, um recorde até agora, e que mostra que testar o vírus começa a ser mais fácil um pouco por todo o país.

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