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Covid-19: Indústria de rações justifica laboração para garantir alimento a animais e humanos

LUSA
18-03-2020 20:28h

A Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais (IACA) veio hoje defender a empresa Nanta, proprietária da antiga Progado, por continuar a laborar em Ovar, assegurando ração "essencial" para assegurar bens alimentares à população humana e animal.

Essa associação industrial reage assim às dúvidas e críticas que a população de Ovar hoje manifestou ao constatar que a Nanta continuava em atividade apesar de o Governo ter terça-feira declarado esse concelho do distrito de Aveiro como em estado de calamidade pública - o que implica quarentena obrigatória, restrições à circulação pedonal, encerramento de atividades não-essenciais e uma cerca sanitária com 70 postos de controlo de entradas e saídas viárias num território de 148 quilómetros quadrados.

Agora, Jaime Piçarra, secretário-geral da IACA, declara à Lusa, sobre essa e outras unidades do setor: "As empresas produtoras de alimentos compostos para animais no município de Ovar estão a operar ao abrigo do Despacho n.º 3372-C/2020, da Presidência do Conselho de Ministros e Ministério da Administração Interna".

O porta-voz da associação refere que a produção de alimentação animal "está enquadrada na primeira exceção mencionada no artigo 1.º do referido despacho por ser necessária à alimentação de animais que vão permitir que se continue a abastecer o mercado com carne, leite e ovos, assegurando o funcionamento da cadeia alimentar".

Jaime Piçarra realça, aliás, que, para os bens alimentares continuarem a chegar aos portugueses, "a continuidade do funcionamento destas empresas é essencial".

Mesmo no caso em que a laboração das referidas fábricas não vise, em ultima instância, assegurar a existência de carne ovos e laticínios para consumo humano, a sua atividade continuará a ser necessária porque "milhões de animais têm que ser alimentados diariamente, em condições de saúde e bem-estar".

O caráter de exceção das empresas de rações aplica-se já ao concelho de Ovar, em quarentena desde terça-feira, e poderá alargar-se igualmente à generalidade do país caso o encerramento de toda a atividade económica não-essencial vier a ser decidido em Conselho de Ministros, na sequência da aprovação em Assembleia da República, esta tarde, do estado de emergência em todo o território nacional.

Espera-se que continuem a laborar, portanto, pelo menos as 60 empresas associadas da IACA, que Jaime Piçarra diz empenhadas em garantir que "a cadeia da alimentação animal está a funcionar com regularidade". Esse universo industrial representa "mais de 80% da produção nacional de alimentos compostos para animais e a totalidade das pré-misturas de produção nacional".

As referidas empresas geram anualmente "um volume de negócios de 1.426 milhões de euros", o que representa 12% da faturação da agroindústria, e empregam na atualidade cerca de 3.500 trabalhadores, o que constitui "4% do emprego do setor agroalimentar".

Os principais destinos dessa produção são a alimentação para animais de estimação e de explorações pecuárias, que representa 2.760 milhões de euros e 38% da economia agrícola nacional, pelo que o setor das rações "tem um impacto direto em 46.000 explorações especializadas e em 37.780 mistas, com atividade agrícola e pecuária".

Quanto às medidas vigentes para segurança de procedimentos e contenção da pandemia, Jaime Piçarra enumera algumas das que já integram os planos de contingência do setor: "Distribuição de máscaras aos trabalhadores cuja presença é imprescindível; separação do espaço de refeições e reserva de casas-de-banho exclusivas para esses funcionários; teletrabalho sempre que a função o permita; e disponibilização em várias áreas fabris de uma solução alcoólica antissética".

O secretário-geral da IACA atribui essas cautelas ao facto de o setor já há muito estar atento à situação gerada pela pandemia, pelo que a associação integra o "Grupo de Acompanhamento e Avaliação das Condições de Abastecimento de Bens nos Setores Agroalimentar e do Retalho em virtude das Dinâmicas de Mercado determinadas pela Covid-19" - ao qual cabe articular "as questões essenciais para funcionamento das empresas do setor".

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da Covid-19, surgiu em dezembro na China e já infetou mais de 210.000 pessoas em todo o mundo, das quais mais de 8.750 morreram. Entre a população com essa doença, mais de 84.000 recuperaram.

O surto espalhou-se já por 170 países e territórios, sndo que, depois da China, com 80.894 diagnósticos de infeção, 69.601 casos de recuperação e 3.237 mortos, os países mais afetados são: Itália, com 2.978 mortes em 35.713 casos; Irão, com 1.135 vítimas fatais entre 17.350 infetados; Espanha, com 558 mortos em 13.716 doentes; e França, com 175 óbitos em 7.730 diagnosticados.

Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde elevou hoje o número de casos confirmados por Covid-19 para 642, mais 194 do que na terça-feira. Do total de infetados, 553 estão a recuperar em casa e 89 internados, 20 dos quais em Unidades de Cuidados Intensivos. Houve também duas mortes e três recuperações. Mas mantêm-se sob suspeita 5.067 casos, dos quais 351 aguardam resultado laboratorial.

Portugal está em estado de alerta desde sexta-feira e hoje a Assembleia da República decretou o estado de emergência no país. O concelho de Ovar foi declarado terça-feira como em estado de calamidade pública, estando sujeito a cerca sanitária e quarentena obrigatória.

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