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Moçambique/Ataques: MSF lança intervenção emergencial para mais de 100 mil deslocados

LUSA
17-12-2025 06:25h

Os Médicos Sem Fronteiras (MSF) lançaram uma intervenção emergencial para atender às necessidades de mais de 100.000 pessoas deslocadas pelos ataques terroristas nas últimas semanas, na província de Nampula, norte de Moçambique, avançou a ONG.

"Para atender às necessidades das mais de 100.000 pessoas que foram forçadas a fugir de suas casas no norte de Moçambique há algumas semanas, a Médicos Sem Fronteiras lançou uma intervenção emergencial na província de Nampula", lê-se numa nota da organização.

Segundo a organização humanitária, desde o dia 04 de dezembro, equipas médicas fornecem cuidados de saúde e serviços essenciais nas áreas do distrito de Eráti com maior concentração de famílias deslocadas.

A ONG explica ainda que, durante o mês de novembro, um grupo armado não estatal realizou múltiplos ataques em Nampula, desencadeando a terceira e, até agora, maior onda de deslocados no norte de Moçambique desde julho.

"Essa onda de deslocamento faz parte de uma crise humanitária mais ampla causada pelo conflito de oito anos em Cabo Delgado, que periodicamente se estendeu para províncias vizinhas, incluindo Nampula", avança a MSF.

Para mitigar os efeitos da crise, os Médicos Sem Fronteiras assinalam que são oferecidos serviços de maternidade, consultas médicas, apoio nutricional e aconselhamento psicossocial nos centros de acolhimento de Alua Velha, Alua Seda e Miliva, sendo a malária a principal causa de consultas, seguida por doenças diarreicas agudas, infeções respiratórias e condições de pele.

 Emerson Finiosse, médico da ONG, citado no documento, explicou que entre os dias 04 e 15 deste mês, foram realizadas mais de 860 consultas médicas, havendo uma alta prevalência de malária, com mais de 30% dos casos positivos entre as pessoas alcançadas.

Em colaboração com o Ministério da Saúde, a MSF também apoiou campanhas de vacinação para proteger famílias deslocadas de "doenças evitáveis".

"Além disso, muitas mulheres que vêm às nossas clínicas móveis para consultas pré-natais estão recebendo esse serviço pela primeira vez, o que significa que nunca haviam iniciado esse processo importante antes", avançou Finiosse, classificando a situação como um "indicador preocupante" do estado do sistema de saúde, mesmo antes de ocorrerem deslocamentos repentinos.

"Em resposta às necessidades críticas de água e saneamento, a MSF está construindo latrinas de emergência e pontos de água. Além disso, a MSF reabilitou um poço não utilizado em Miliva, garantindo água potável segura para a comunidade. Doze novas torneiras de água foram instaladas em Alua Sede, com capacidade para atender 1.800 pessoas por dia", refere-se na nota.

Para o distrito de Eráti, aquela organização humanitária avança que foi lançada uma intervenção emergencial de três meses, para atender às crescentes necessidades humanitárias e médicas da população, enquanto a ONG continua a fornecer serviços vitais de saúde para comunidades anfitriãs e pessoas que enfrentam violência e deslocamento no norte do país.

"No primeiro semestre de 2025, realizámos quase 100.000 consultas ambulatórias e realizámos atividades em grupo de saúde mental para mais de 35.000 pessoas. Operámos clínicas móveis e atividades de alcance, encaminhámos pacientes para centros de saúde e apoiámos instalações médicas e hospitais em colaboração com o Ministério da Saúde", conclui-se.

Pelo menos 12.580 deslocados pelos ataques no distrito de Memba, província de Nampula, já regressaram às zonas de origem, divulgaram na sexta-feira as autoridades locais, confirmando que a situação de segurança melhorou substancialmente, devolvendo confiança às famílias para regressar às zonas de origem.

A província de Cabo Delgado, também no norte de Moçambique, rica em gás, é alvo de ataques extremistas há oito anos, com o primeiro ataque registado em 05 de outubro de 2017, no distrito de Mocímboa da Praia.

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