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Cientista: Envelhecimento tem trazido doenças crónicas e SNS tem de se adaptar

Lusa
10-12-2025 13:56h

O diretor científico do Instituto Multidisciplinar do Envelhecimento (MIA) de Portugal, Manuel Santos, disse hoje que a população está a envelhecer com múltiplas doenças crónicas, sendo necessária uma adaptação do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Neste momento, os utentes “estão a envelhecer com múltiplas doenças crónicas, com uma prevalência muito elevada”, situação que “vai agravar-se", porque a expectativa de vida vai continuar a aumentar aceleradamente, afirmou, na sessão de abertura do 12.º congresso em Envelhecimento Ativo e Saudável da Região Centro, que decorre hoje em Coimbra. 

Na sociedade portuguesa, houve uma rápida mudança na pirâmide etária e, apesar de o SNS se ter modernizado e adaptado, a sua estrutura funcional e organizacional “não se alterou significativamente”. 

“Há aqui uma necessidade de adaptar o Serviço Nacional de Saúde a uma pirâmide etária que é muito diferente daquela” que estava em vigor quando o sistema foi criado, na década de 70 do século passado. 

De acordo com o responsável, “nunca até hoje a esperança média de vida atingiu os valores” atuais, uma mudança rápida, cuja adaptação tem sido difícil. 

Atualmente “há uma enorme lista de doenças crónicas”, com destaque para a diversidade, mas também para a prevalência a partir dos 65 anos, atingindo 40% a 45% da população. 

Caso nada seja feito, “aquilo que vai acontecer é que o aumento da esperança média de vida vai ser acompanhado com o aumento de indivíduos com doenças crónicas e obviamente isso tem um custo pesado”, reforçou. 

O Instituto Multidisciplinar do Envelhecimento de Portugal quer, precisamente, “produzir conhecimento que ajuda com este problema”, comprimindo “esse período das doenças crónicas ao máximo” e estendendo “ao máximo a longevidade saudável”. 

O MIA será inaugurado já em 2026, um projeto financiado em 15 milhões de euros pela Comissão Europeia, além dos fundos nacionais, através da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Centro, que conta com parceiros internacionais e nacionais, como a Universidade de Coimbra (UC). 

O espaço será instalado no antigo Hospital Pediátrico de Coimbra e terá entre 200 e 220 investigadores e até 65 técnicos. 

Segundo Manuel Santos, o MIA irá desenvolver projetos piloto na população, visando a produção de conhecimento para posterior transmissão, além de tentar criar uma espécie de ‘cowork’ com milhares de pessoas, em conjunto com a Unidade Local de Saúde (ULS), para juntar dados e “determinar trajetórias de saúde”. 

O também professor da Universidade de Coimbra apontou, entretanto, que um envelhecimento saudável, além de ser alcançado através de políticas públicas, depende também de ações individuais, como a prática de exercício físico, ter atenção ao consumo de álcool e de tabaco e de uma alimentação saudável. 

Ainda no âmbito dos cuidados de saúde, fez a ressalva de que, atualmente, eles estão muito centrados em centros de saúde e em hospitais, embora a medicina preventiva e uma educação para hábitos de vida saudáveis sejam indispensáveis. 

Também presente na sessão de abertura, a presidente da Câmara de Coimbra, Ana Abrunhosa, afirmou que o MIA é um projeto intergeracional da cidade, para responder aos desafios do envelhecimento.

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