O Governo são-tomense rejeitou uma proposta da Universidade de Califórnia que visava a libertação do mosquito geneticamente modificado na ilha do Príncipe, enquanto estratégia de eliminação do paludismo, disse à Lusa o responsável do projeto.
“Uma primeira abordagem para se implementar a nossa estratégia, nomeadamente na Ilha do Príncipe, não teve uma resposta favorável”, disse à Lusa João Pinto, após uma apresentação durante um seminário promovido pelo Governo são-tomense, sobre paludismo, tuberculose e HIV-Sida.
Trata-se de um projeto da Universidade de Califórnia Iniciativa Contra a Malária (UCMI, na sigla inglesa), que desde 2018 tem feito pesquisas sobre a matéria em São Tomé e Príncipe.
A solução passa por modificar o mosquito Anopheles, que transmite a malária, na ideia de que o organismo deste inseto elimine o parasita que, transmitido aos humanos, causa o paludismo. O objetivo é que se garanta o gene dominante, fazendo com que toda a população de mosquitos deixe de propagar a doença.
Segundo João Pinto, a proposta de libertação de mosquitos geneticamente modificados foi apresentada ao anterior executivo liderado pelo ex-primeiro-ministro Patrice Trovoada (2018-2022), em março do ano passado, mas rejeitada em agosto do mesmo ano, com a declaração de suspensão dos estudos sobre mosquitos geneticamente modificados no arquipélago.
O mesmo responsável disse que em outubro o Governo voltou a aceitar a continuidade dos estudos sem foco no mosquito geneticamente modificado. E acrescentou que, em junho, o atual Governo onsiderou rever as “propostas de libertação e desenvolvimento de mosquito modificado”, mas, "na ausência de uma resposta”, a UCMI retirou a proposta por iniciativa própria “e ficar disponível para continuar a apoiar o Programa de Luta Contra o Paludismo, dando apoio à parte da investigação”.
João Pinto disse que Governo demonstrou que “não ficou completamente satisfeito com os dados que o programa apresentou, nomeadamente ao nível da biossegurança e do risco”, por entender que a pesquisa feita “não era suficiente para dar a confiança que o Governo precisaria”.
João Pinto justificou que foi por isso que a UCMI solicitou a continuação dos trabalhos e apresentou “uma segunda proposta baseada em mais evidência científica”.
“A UCMI está pronta, tem tudo o que é necessário (...) podermos avançar (...), s questões de biossegurança e de pesquisa acerca da biologia do mosquito estão concluídas. Fata, logicamente, a aprovação da parte do Governo de São Tomé e Príncipe, que é uma condição sem a qual nós nunca poderíamos implementar uma situação destas”, disse João Pinto.
Durante o seminário, algumas pessoas, incluindo profissionais da saúde, levantaram algumas dúvidas sobre o impacto da estratégia da UCMI, mas o representante do projeto disse compreender e sublinhou que “tomar o primeiro passo neste caso torna São Tomé e Príncipe pioneiro nesta tecnologia ao nível não só de África, mas do mundo inteiro”.
“Sem dúvida, isso é algo natural. (...) Não deixa de ser uma tecnologia completamente nova, logo há de haver sempre uma suspeita, daí a necessidade de haver uma decisão, alguém que tome o primeiro passo”, defendeu João Pinto.
Questionado pela Lusa, o ministro da Saúde de São Tomé e Príncipe sublinhou que quando o atual Governo foi informado pela UCMI da retirada da segunda proposta, o assunto ainda estava em análise e o executivo tinha não tinha chegado a uma decisão final e dito “que recusa liminarmente”.
Segundo Celso Matos, o Governo estava em contacto com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e outros parceiros, “procurando um especialista em biossegurança que avaliasse as condições do laboratório em que eles estavam a trabalhar”.
O país para tomar uma decisão tem de "colher maior informação qualificada, ver os prós e os contras", de acordo com o momento em que se encontra o combate ao paludismo, sublinhou Celso Matos.