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Menos arsénio na água subterrânea reduz mortalidade por doenças crónicas - Estudo

Lusa
18-11-2025 00:45h

A contaminação da água potável com arsénio natural é um problema global e a redução da quantidade desta substância está associada a uma diminuição de aproximadamente 50% no risco de morte por cancro, doenças cardiovasculares e outras doenças crónicas.

Uma investigação, publicada na revista científica JAMA, centra-se no Bangladesh, um país que há 20 anos se esforça por reduzir o arsénio na sua água potável, resultando numa redução de 70%.

Durante o estudo, a água potável e os registos de saúde de 10.977 homens e mulheres foram monitorizados entre 2002 e 2022 para comparar aqueles cuja exposição ao arsénio diminuiu de alta para baixa com aqueles cuja exposição se manteve elevada.

As pessoas cujos níveis de arsénio diminuíram apresentaram um risco 54% menor de morrer de qualquer doença crónica, segundo a investigação realizada pela Universidade de Nova Iorque, Universidade de Columbia e Universidade de Chicago.

Reduções semelhantes foram também observadas especificamente nas doenças cardíacas (57%) e no cancro (49%).

O estudo registou 1.401 mortes por doenças crónicas, incluindo 730 por doenças cardiovasculares e 256 por cancro.

Os participantes foram submetidos a análises à urina em seis ocasiões, permitindo aos investigadores acompanhar as alterações na exposição ao arsénio ao longo do tempo.

Aqueles que passaram de níveis elevados para baixos de arsénio na urina apresentaram taxas de mortalidade idênticas às daqueles que mantiveram uma exposição consistentemente baixa durante todo o estudo.

Quanto maior for a redução dos níveis de arsénio, maior será a redução do risco de mortalidade, enquanto aqueles que continuaram a beber água com níveis elevados não apresentaram redução do risco.

Estes padrões persistiram mesmo após o ajuste para diferenças de idade, tabagismo e nível socioeconómico, segundo a Universidade de Columbia.

O arsénico é um dos contaminantes químicos mais comuns porque se acumula naturalmente nas águas subterrâneas e é insípido e inodoro, pelo que as pessoas podem consumir níveis perigosos durante anos sem saber.

A investigação fornece "a evidência mais forte até à data de que a redução do arsénio na água potável pode diminuir as taxas de mortalidade por doenças crónicas", frisou Fen Wu, da Universidade de Nova Iorque.

Segundo a equipa, este é o primeiro estudo a oferecer provas diretas, examinando os níveis de arsénio e a mortalidade de cada participante ao longo de duas décadas numa região com exposição moderada ao arsénio (menos de 200 microgramas por litro).

Os investigadores monitorizaram mais de 10.000 poços dentro e à volta do distrito de Araihazar, no Bangladesh, onde foram iniciadas medidas para mitigar os efeitos do arsénico em 2000.

Investigações anteriores em regiões de Taiwan e do Chile com níveis elevados de arsénio (acima de 600 microgramas por litro) associaram uma redução das taxas de mortalidade por doenças cardíacas e cancro à diminuição dos níveis de arsénio na água potável.

O Bangladesh, no seu todo, enfrenta um dos desafios mais graves do mundo relativamente à contaminação da água potável por arsénio.

Com uma população de cerca de 175 milhões de pessoas, mais de 50 milhões estão expostas a níveis acima do padrão da Organização Mundial de Saúde (OMS) de 10 microgramas por litro.

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