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Web Summit: Espero que prótese na retina seja aprovado em 2026 - CEO da Science

Lusa
14-11-2025 09:12h

O fundador e presidente executivo (CEO) da Science, que atua em interfaces cérebro-computador, diz em entrevista à Lusa esperar que no próximo ano seja aprovada a prótese retinal PRIMA, depois dos ensaios clínicos.

Em outubro, o New England Journal of Medicine (NEJM) publicou um artigo original revisto por pares sobre um estudo clínico inovador do implante de retina com interface cérebro-computador (BCI, na sigla inglesa) PRIMA, desenvolvido pela Science, o qual restaurou a visão central funcional em doentes que sofriam de atrofia geográfica devido à degeneração macular relacionada com a idade, uma das principais causas da cegueira.

"A esperança é que no próximo ano, PRIMA, a nossa principal prótese retinal seja aprovada para o mercado", diz Max Hodak quando questionado sobre o que gostaria de alcançar dentro de um ano.

Max Hodak, que no passado ajudou a criar a Neuralink, foi um dos oradores da Web Summit na edição deste ano.

Com a aprovação do PRIMA, "em vez de estarmos apenas em fase de investigação clínica, poderemos finalmente começar a indicá-la aos doentes", acrescenta, uma vez que atualmente ainda não está aprovada.

A Science é considerada líder em 'Brain Computer Interfaces' (BCI), "focada em viabilizar um futuro mais promissor através da engenharia neural", refere a empresa.

"O cérebro é um computador. Portanto, as interfaces cérebro-computador (BCI) não são um produto, mas sim uma área de estudo", explica Max Hodak, adiantando que existem muitos tipos de produtos diferentes a serem desenvolvidos dentro desta área.

"Inicialmente, a área da BCI surgiu do campo mais vasto da neurociência, que se preocupa, de um modo geral, com questões como: o que são os cérebros e como funcionam", enquadra o CEO que tem formação em engenharia biomédica.

Depois esta área começou a ramificar-se num campo separado da engenharia neural, "onde o interesse não é apenas compreender o que são os cérebros, mas também como podemos interagir com eles para algum tipo de propósito específico, seja restaurar a visão de pessoas que ficaram cegas ou a audição de pessoas surdas, restaurar a capacidade de se mover suavemente em pessoas com Parkinson, ou talvez restaurar uma faculdade perdida devido a um AVC".

Há uma investigação "muito interessante" da UCSF já há algum tempo que mostra que a depressão pode ser tratada de forma muito eficaz "com um estimulador cerebral profundo", conta, tudo isto são tipos de BCI, de certa forma.

"Na nossa empresa, Science, estamos a trabalhar principalmente com pessoas cegas e temos dois programas para isso", refere.

O primeiro é o PRIMA, que foi recentemente capa da revista Time e os resultados do ensaio clínico publicados no NEJM.

"É uma prova de conceito de que estamos no caminho certo, mas há formas óbvias de o melhorar. E vamos continuar a fazê-lo para que possamos levá-lo a mais doentes com menos incapacidade, que sejam mais jovens e que talvez tenham mais visão residual", acrescenta Max Hodak.

Além disso, "temos outra tecnologia a que chamamos interface neural biohíbrida ['biohybrid neural interface'], que utiliza neurónios vivos para se ligar ao cérebro em vez de fios, contorna as limitações das interfaces neurais tradicionais e minimiza os danos causados ao cérebro.

Neste caso, o implante não é no olho, mas no crânio, no cérebro e, para isso, "utilizamos células vivas para fazer a ligação com o cérebro", diz.

"O que temos é a capacidade de carregar um dispositivo com estes neurónios biológicos projetados e depois simplesmente colocá-lo na superfície do cérebro, onde cresce e forma novas ligações biológicas. E forma muitas delas, milhões ou potencialmente biliões", podendo ter uma vasta amplitude de aplicações, desde Parkinson até epilepsia.

Ao contrário do BCI, "a IA é certamente muito mais famosa agora e teve um impacto muito maior, quer dizer, o ChatGPT é utilizado por mil milhões de pessoas", diz Max Hodak, salientando que a Science não está sozinha e há uma "grande comunidade académica" global que trabalha nesta área. Há cerca de seis ou sete empresas de BCI de dimensão significativa, atualmente, diz.

"O cérebro é o único órgão com o qual realmente me preocupo", diz.

Max Hodak diz que a ideia de que só se usa 10% do cérebro é um equívoco.

"A realidade é que usamos praticamente todo o cérebro, mas o cérebro é muito silencioso. Isso é verdade. Apenas uma pequena percentagem de neurónios está ativa num dado momento, mas ainda estão ligados de alguma forma", conclui.

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