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OMS pede apoio urgente a sistemas de Saúde em países alvo de cortes da ajuda externa

LUSA
03-11-2025 22:33h

A Organização Mundial de Saúde (OMS) apelou hoje a uma mobilização urgente para assegurar o financiamento de sistemas de saúde em países que enfrentam alto endividamento e redução da ajuda externa.

"O mundo enfrenta uma emergência global de financiamento da saúde que exige uma ação coordenada e urgente", alertou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, numa reunião dos Estados-membros da União Africana, em Genebra.

A OMS divulgou hoje um conjunto de recomendações para combater os efeitos imediatos e a longo prazo dos drásticos cortes na ajuda internacional, que prejudicaram gravemente os serviços básicos de saúde em muitas regiões.

Os Estados Unidos, tradicionalmente o maior doador mundial, cortaram abruptamente a sua ajuda externa sob presidência de Donald Trump, com consequências graves para muitos países, e outros grandes doadores também seguiram o mesmo caminho.

A OMS indicou que a ajuda internacional para a saúde deverá cair mais de 30% em 2025, face a 2023, com dados de março a mostrarem interrupções imediatas nos serviços de saúde em aproximadamente 70% dos países de baixo e médio rendimento.

"Estes cortes orçamentais drásticos já estão a afetar gravemente os sistemas e serviços de saúde. Um terço dos países reporta agora escassez crítica de medicamentos essenciais e de planos de saúde", afirmou Ghebreyesus.

A pandemia de Covid-19 já tinha gerado "dívidas abismais e uma margem orçamental cada vez mais limitada, exacerbando décadas de subinvestimento crónico na saúde pelos orçamentos nacionais", adiantou.

A atual crise oferece, no entanto, "uma oportunidade: virar a página da era da dependência da ajuda e abraçar uma nova era de soberania, autossuficiência e solidariedade", sublinhou o diretor-geral da OMS.

Nas suas novas recomendações, a OMS instou os países envolvidos a investirem mais na saúde e a darem prioridade às populações mais pobres.

Defendeu ainda a proteção dos orçamentos da saúde, mesmo em períodos de restrições orçamentais, e a utilização de avaliações para priorizar serviços e produtos com maior impacto na saúde em relação ao investimento.

Em África, onde os sistemas de saúde são particularmente vulneráveis e afetados pelos cortes na ajuda externa, vários países já se esforçam por aumentar as suas despesas com os cuidados de saúde, a fim de reduzir a dependência da ajuda internacional.

A Nigéria, por exemplo, aumentou o seu orçamento para a saúde em 200 milhões de dólares este ano para compensar a falta de ajuda externa, e o Gana eliminou o teto do imposto sobre o consumo (imposto indireto) destinado à sua agência nacional de seguro de saúde, aumentando assim o seu orçamento em 60%.

"Aumentar as despesas com a saúde não é um custo, mas um investimento muito rentável", insistiu Amma Twum-Amoah, Comissária para a Saúde da União Africana no Gana.

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