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Campanha permitiu remover 80 cancros de pele a pessoas com albinismo em Moçambique

LUSA
21-10-2025 09:34h

Pelo menos 80 cancros de pele foram removidos em cinco dias numa campanha de rastreio de pessoas com albinismo em Nampula, norte de Moçambique, incluindo 14 tumores num único paciente, foi hoje anunciado.

“Estamos a ver cancros em crianças de 11 e 12 anos, pacientes que têm mais de cinco cancros, um paciente que tinha cerca de 14 cancros. Tivemos que remover cerca de 14 cancros numa só pessoa”, disse à Lusa Marcelo Banquimane, médico dermatologista no Hospital Central de Nampula (HCN).

“Significa que temos aqui muito trabalho para fazer na área preventiva”, reconheceu, acrescentando que durante os cinco dias de rastreio, 140 pessoas foram examinadas e 27 operadas, com a remoção de 80 tumores malignos.

A segunda campanha de rastreio e tratamento decorreu entre 13 e 17 de outubro, com o apoio da organização não-governamental espanhola África Direto, abrangendo pacientes de 15 distritos da província, e contou com uma equipa reforçada composta por cinco dermatologistas e dois médicos da especialidade de cirurgia maxilofacial. 

“Infelizmente muitos aparecem com cancros grandes, começam com cancros pequenos que é possível diagnosticar e poder removê-los enquanto é cedo (...), se a gente diagnostica precocemente, consegue tratar e evitar que essas pessoas cheguem à fase de cirurgia”, explicou o médico.

O Hospital Central de Nampula enfrenta, contudo, dificuldades no acompanhamento pós-operatório dos doentes por falta de recursos, o que aumenta o risco de complicações e reincidência do cancro. A campanha contou também com o apoio da Associação Amor à Vida, que apoia pessoas com albinismo e que assegurou o rastreio dos pacientes provenientes das vizinhas províncias de Niassa e Cabo Delgado.

O médico Marcelo Banquimane relatou casos de jovens em estado terminal, incluindo dois pacientes de 21 anos sem possibilidade de cirurgia.

“Isso para nós é uma dor, significa que o cancro conseguiu vencer a batalha e nós perdemos. E essas pessoas estão ligadas a uma situação de viver com isso e o seu tempo de vida reduzido por conta do cancro, e isso para nós é uma derrota e não gostaríamos que isso continuasse”, lamentou.

Entre os casos mais graves, destacou-se o de um homem de 40 anos, que teve 14 tumores removidos e recebeu alta no mesmo dia, e o de uma menina de 11 anos, que perdeu um dos olhos devido ao avanço do cancro.

O dermatologista reforçou a necessidade de “mais trabalhos preventivos” e apelou ao apoio do empresariado local e parceiros sociais para reforçar estas campanhas de prevenção e rastreio.

“Apelamos mais uma vez à sociedade, ao empresariado local, para apoiar-nos no sentido de irmos ao terreno, irmos à busca dessas pessoas com albinismo e podermos diagnosticar as doenças o mais precocemente possível”, concluiu.

O Governo moçambicano admitiu, em 09 de junho, que as pessoas com albinismo continuam a enfrentar “estigmas profundos” no país, incluindo mutilação, discriminação e exclusão social, prometendo ajustar a legislação para proteger este grupo.

Também têm sido vítimas de perseguições, violência e discriminação devido a mitos e superstições, que incluem o uso de órgãos ou ossadas em rituais, sendo colocadas entre os principais alvos de violações de direitos humanos.

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