SAÚDE QUE SE VÊ

Profissionais têm perceção mais negativa do impacto de doenças crónicas do que os doentes - estudo

Lusa
08-10-2025 14:39h

Os profissionais de saúde têm uma perceção mais negativa do impacto da doença renal crónica, da insuficiência cardíaca e da diabetes do que os próprios doentes, conclui um estudo que defende a comunicação como uma ferramenta terapêutica.

Esta é uma das conclusões dos projetos Concordia, da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa (ENSP), hoje apresentados em Lisboa e que foram dedicados à doença renal crónica, à insuficiência cardíaca e à diabetes mellitus tipo 2.

Na prática, as iniciativas identificaram as principais preocupações, impactos e constrangimentos sentidos pelos doentes crónicos, assim como as perceções dos profissionais de saúde, com o objetivo de melhorar a qualidade dos cuidados e os resultados em saúde e alinhar perceções, preocupações e prioridades entre as duas partes.

“Em todas as doenças analisadas, os profissionais percecionam um impacto mais negativo da doença do que as próprias pessoas que vivem com a doença”, concluiu o estudo, que avança que as maiores discrepâncias se verificam ao nível das dimensões emocionais, sociais e familiares, como autoimagem, vida familiar e sexualidade.

No caso específico da diabetes tipo 2, as pessoas com a doença identificam até “impactos positivos, como um maior autocuidado”, mas que são raramente reconhecidos pelos profissionais de saúde, apurou o projeto.

A equipa da ENSP chegou ainda à conclusão, relativamente à diabetes e à insuficiência cardíaca, que as preocupações estão mais centradas no presente, como no controlo diário da doença, nos sintomas e na qualidade de vida, enquanto, no caso da doença renal crónica, os doentes estão mais preocupados com as implicações futuras, caso da possibilidade de fazerem hemodiálise, transplantes e perda de autonomia.

O estilo de vida é a dimensão com menor nível de preocupação para as pessoas com doença, mas, em contrapartida, é uma das mais valorizadas pelos profissionais de saúde que participaram no Concordia.

Perante estas conclusões, o estudo defende, como implicações para as políticas de saúde, que a comunicação deve ser assumida como uma ferramenta terapêutica e de alinhamento de expectativas entre as duas partes – doentes e profissionais de saúde.

Além disso, preconiza a necessidade de uma “escuta ativa e valorização da experiência” das pessoas com doença, assim como a revisão dos modelos de avaliação clínica para integrar qualidade de vida, autonomia e literacia em saúde como critérios.

No âmbito do Concordia, foram consensualizadas dezenas de iniciativas para cada um dos projetos, que incidem em áreas como aproximação de perspetivas entre o doente e o profissional de saúde, promoção da literacia e acesso a cuidados de qualidade, entre outras.

Os três projetos, correspondentes a cada uma das doenças, mostraram que, ao escutar as pessoas com doença crónica, envolvendo-as no processo de cuidados, é possível “transformar a forma como se prestam cuidados, tornando-os mais humanos, mais eficazes e mais alinhados com as suas reais necessidades”, salienta a ENSP.

MAIS NOTÍCIAS