Pelo menos 30 crianças com até 5 anos morreram no primeiro semestre por desnutrição aguda em Nampula, no norte de Moçambique, um aumento de seis casos comparado a igual período de 2024, segundo dados das autoridades de saúde.
“A região continua a enfrentar elevados índices de desnutrição infantil tendo registado, só no primeiro semestre do ano em curso, perto de 24.576 mil casos de desnutrição aguda em crianças, contra 21.833 do ano 2024”, disse hoje à Lusa Selma Xavier, diretora provincial de saúde em Nampula.
Segundo a responsável, os números reforçam a gravidade do problema, numa região onde a taxa de desnutrição atinge cerca de 46,7%, uma percentagem acima da média nacional, fixada em 38%.
“Das 24.576 crianças admitidas neste ano para o Programa de Reabilitação Nutricional, 968 abandonaram o tratamento contra 1.249 do ano passado, sendo que foram curadas 16.770 contra 16.481 de 2024”, referiu Selma Xavier.
Para fazer face ao problema, o Governo, em parceria com a Visão Mundial, lançou recentemente na localidade de Cazuzu, no distrito de Murrupula, o programa denominado “Já Chega” que prevê alcançar cerca de 2,6 milhões de crianças das províncias de Nampula, Zambézia, Tete e Gaza e uma mobilização de mais de dois milhões de dólares (1,7 milhões de dólares) até 2028.
Trata-se de uma iniciativa que pretende estimular mudanças de comportamento nas comunidades, através da sensibilização sobre a importância de uma alimentação equilibrada a partir de produtos locais, uma aposta que envolve o aproveitamento dos recursos disponíveis, mostrando às famílias que alimentos cultivados e preparados de forma adequada podem garantir os nutrientes necessários para o crescimento saudável das crianças.
Uma responsável da Visão Mundial, Diolene Gimo, explicou à Lusa que, para além de promover práticas alimentares mais seguras, a iniciativa procura fortalecer respostas coletivas ao problema da desnutrição infantil em Moçambique.
“A ideia é envolver diferentes setores da sociedade, de forma integrada, para assegurar que a luta contra a doença não fique apenas nas mãos das famílias, mas que se torne um compromisso conjunto, e também expandir de maneira sustentável, com investimentos públicos e privados, o Programa Nacional de Alimentação Escolar”, disse.
No lançamento do programa, as crianças presentes defenderam a introdução de disciplinas escolares que abordem aspetos relacionados com nutrição e os bons hábitos alimentares, havendo a perceção de que o conhecimento adquirido em sala de aula pode ser replicado em casa e, assim, contribuir para a redução dos índices da doença na província.
De acordo com as autoridades provinciais, todos os 23 distritos de Nampula registam casos de desnutrição infantil e Nampula, Eráti, Meconta, Monapo, Mossuril e Ilha de Moçambique destacam-se entre os que mais relatam casos da doença. Nessas localidades, os desafios são agravados por fatores como a insegurança alimentar, dificuldades de acesso a serviços de saúde e a falta de informação sobre práticas adequadas de nutrição.